segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Honda CB750 Hornet à prova

“Pedro, afinal esta moto é ou não uma Hornet?”. A pergunta foi me colocada inúmeras vezes durante os dias em que tive comigo a novíssima Honda CB 750 Hornet. Novos, velhos, gordos, magros. Homens e mulheres. Todos querem conhecer a resposta à pergunta “do milhão de euros”. Afinal a Honda CB750 Hornet é ou não uma Hornet? Desde logo, isto diz bem de uma fama e glória que vem de longe. É uma questão difícil. Para encontrar resposta temos desde logo que ir à procura do que afinal vem a ser isso de “ser Hornet”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Ano de 1998. Evitando o drama da folha em branco, a Honda lança mão da unidade motriz da anterior versão da CBR600 F. O motor é revisto e descafeinado com o objectivo de o tornar mais redondo privilegiando regimes médios (95 CV, 63 Nm) . Esteticamente encontrávamos uma tentetiva de síntese entre linhas mais clássicas e detalhes agressivos – “aspecto de “streetfighter” iniciática” escrevia Vitor Sousa na MOTOCICLISMO da época. 


O quadro era uma poderosa trave central, o braço oscilante tinha secção rectangular. Nas rodas encontrávamos material decalcado da Honda CBR 900 RR Fireblade. Numa palavra, a Hornet era uma CBR600 despida e com rodas de 900 RR. Um preço muito competitivo de 1.099.000$00 escudos - cerca de 5.200 € em moeda atual – fez desta pequena “bomba” um sucesso instantâneo. 


A Hornet foi pois uma moto bem-nascida, esbanjadora de estilo, confortável, fácil de conhecer e conduzir; e que viria a revelar-se extraordinariamente fiável. Até 2011 a marca foi actualizando o modelo, sempre na base do espírito inicial, deixando o mesmo de ser comercializado em 2014. Vamos pois guardar estas palavras: estilo, conforto, facilidade de utilização e fiabilidade. 

O DINAMISMO SENSUAL QUE “IA ACABANDO” NA FOGUEIRA 

Ao contrário do modelo original, a nova Honda CB750 Hornet nasce de uma folha em branco. É pois uma moto totalmente nova. Para a compreender é interessante ouvir quem nela trabalhou Nas palavras de Fuyuki Hosokawa, líder de Grande Projecto, departamento de R&D da Honda, Japão: “A Hornet sempre foi uma moto muito especial para a Honda. As suas performances emocionantes e envolventes sempre estiveram combinadas com uma maneabilidade muito fácil e intuitiva. Antes do início deste projecto, pensámos muito sobre que tipo de performances a oferecer ao condutor. Sabíamos que era fundamental manter o "trabalhar" e toda a potência à rotação máxima da Hornet clássica e, ao mesmo tempo, sendo esta uma nova geração da Hornet, o motor não poderia deixar de ter também uma sensação de binário realmente forte e um "troar" nas gamas de baixa e média rotação. O nosso objectivo sempre foi combinar estes dois aspectos com uma maneabilidade muito leve e ágil, tornando cada turno de condução – mesmo em cidade – o mais envolvente e gratificante possível. Para nós, a Hornet sempre foi a representação máxima do conceito streetfighter e esta nova Hornet continua orgulhosamente essa tradição." 

Giovanni Dovis, designer-chefe de styling da Honda R&D Europe, Roma diz que "a filosofia de design da Honda é criar algo puro e funcional de uma forma simples e descomplicada – modelos que são ao mesmo tempo simples, bonitos e emocionalmente atraentes. A nossa inspiração para as formas da nova Hornet foi "Sensual Dinamism". Tinha que ser um design simples de modelo streetfighter – tal como foi o original – mas queríamos chegar a ângulos e proporções muito mais agressivos. A silhueta e a musculatura sinuosa de uma chita a toda velocidade serviram de inspiração com a sua força, impulsionada pela óbvia potência deste novo motor. O aspecto da moto mostra como o design da nova Hornet promete agilidade, dinamismo e leveza graças às suas proporções esguias, traseira pontiaguda e linhas muito distintas. Tudo isto permite criar um novo visual muito compacto, mas com características de tensão e agressividade da frente para a traseira, o que nos revela a toda a verdadeira inclinação desportiva da Hornet". 

Foto: Gonçalo Fabião

São palavras muito bonitas, senhores doutores e engenheiros, todavia o único prémio que a Honda CB750 Hornet ganhou até hoje foi o prémio de moto “mais mal recebida de todos os tempos”. Já poucos se recordam, todavia o revelar da nova Hornet em Colónia no passado mês de Outubro de 2022, abriu a torneira das críticas: “feia, desinspirada, faltam-lhe dois cilindros”, gritou o povo nas redes sociais. E lá foi a boa da Hornet para o pelourinho. Como não estamos na Idade Média, chegou enfim tempo de uma “Fase de Inquérito” e “Julgamento” à luz dos melhores Princípios de Justiça. Imparcialidade e equidade! 

UMA REVOLUÇÃO NA COLMEIA 
O polémico desenho da Honda CB750 Hornet teve como fundamental linha condutora o depósito de combustível, que se inspira - segundo a marca - no formato das asas de uma vespa. Para onde quer que se olhe, desde a carnagem frontal agressiva e angulada até à traseira minimalista, há marcas de tensão e atrevimento, revelando a verdadeira intenção da marca na natureza desportiva do modelo. 

Foto: Gonçalo Fabião

O novo motor da Hornet é um bicilíndrico de 755 cm³ (91CV e 75Nm). A moto tem um peso em ordem de marcha de apenas 190 kg, o que oferece uma relação peso/potência 2,08 kg por CV. O quadro em aço tipo diamante da Hornet é leve, pesando 16,6 kg (como comparação, o da CB650R pesa 18,5 kg). Os importantes processos tecnológicos de reforço da zona da cabeça de direcção e optimização das formas dos pontos pivot teve como foco a origem de uma plataforma robusta, com um bom equilíbrio no sentido de oferecer uma sensação e geometria bem definidas e a melhor agilidade possível. 

Foto: Gonçalo Fabião

A revolução lá na colmeia passa ainda pelo digital. O sistema de acelerador electrónico oferece três modos de condução por defeito, ajustando a entrega da potência do motor e a sensação de condução de forma a se adequar melhor às condições e às intenções do condutor; é muito fácil alternar entre os modos e gerí-los usando o interruptor de Modo no punho esquerdo e no ecrã TFT. Contem com três níveis de potência, travão-motor e controlo de tracção (HSTC); o sistema HSTC tem controlo anti¬ levantamento da roda frontal integrado e pode ser desactivado. Estes três modos oferecem ainda possibilidade de diferentes combinações de cada parâmetro.

RAPIDEZ, AGILIDADE E DIVERSÃO 
Aqui chegados é enfim tempo de indagar ao que sabe a Honda CB750 Hornet, no sentido de tentar responder à tal pergunta do milhão de euros: afinal esta moto é ou não uma Hornet? 

Foto: Gonçalo Fabião

Quando o olhar finalmente repousa na nova CB750 Hornet vivemos o clássico “afinal é mais bonita que nas fotos”. Sentimos a moto muito pequena e imediatamente a compreendemos inclusiva. É feita para todos. Também para as miúdas que chegam cada vez mais ao nosso mundo feito de motociclismo. É feita também para nós mais velhos que encaixamos as nossas adiposidades mais ou menos excessivas com facilidade em todo o conjunto. Tudo é intuitivo e os primeiros quilómetros rumo à sessão fotográfica são engolidos abruptamente, revelando que estamos aos comandos de um pocket rocket nipónico. A agilidade é tanta que passados apenas duas dezenas de quilómetros sentimos a rapidez necessária para espremer o conjunto como se sempre tivesse sido nosso. A diversão é, obviamente, consequência. 

Naquela primeira tarde a fotografar sentimos, para além de uma brecagem desconcertante, um conforto surpreendente. O regresso a casa, realizado por uma Marginal ao por do sol repleta de trânsito lento, foi transformado em mel pela golden hour à medida que o “Vespão” ia devorando as patéticas filas automóveis. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta é ainda uma moto extremamente compacta, estreita e esguia que apresenta uma notável distribuição de massas. Como consequência a vida na cidade acaba por ser notavelmente fácil. Consequências das dimensões reduzidas, os espelhos não fazem, com total eficácia, a sua função. Aspecto menos positivo e mais relevante é o comportamento das suspensões quando submetidas ao stress das estradas de montanha próximas. Se num andamento normal tudo vai bem, assim que “damos calor”, abusando a sério dos prazeres proporcionados (também) pelo quickshifter, facilmente encontramos um detalhe a melhorar no futuro. 

AFINAL ESTA MOTO É OU NÃO UMA HORNET? 
Se bem se recordam no início deste texto sublinhamos enquanto natureza da Hornet original o estilo, o conforto, a facilidade de utilização e a fiabilidade. Sendo certo que esta última questão só será conhecida no futuro, fica pois aqui provado que esta nova Honda CB750 Hornet apresenta o estilo próprio do ar dos tempos, uma moto provocadora e inclusiva como as novas geração reclamam. Apresenta também um conforto digno ao ponto da marca sugerir como extra um pack touring composto por bolsas laterais, protector depósito, saco de depósito e saco para o banco traseiro. E por fim a facilidade de utilização está tão patente que é mesmo inquestionável. 

Foto: Gonçalo Fabião

Que não restem dúvidas. Para este vosso ESCAPE MAIS ROUCO, sim! A Honda CB750 Hornet é mesmo uma Hornet. Uma Hornet para um tempo que cada vez mais desconstrói tabus. Um tempo de inclusão, um tempo onde o momento bate o futuro e sobretudo bate o passado. Habituem-se. E acima de tudo adaptem-se! 

Foto: Gonçalo Fabião

Para além do já enunciado Quickshifter – elemento do pack sport – a unidade provada vinha equipada com charmoso pack style - pesos dos punhos, apoios superiores para o guiador, protecção de depósito, autocolantes para as rodas e cogumelos de protecção para o quadro. Esta Pearl Glare White (NH-B53P) reclamou pouco mais de quatro litros e meio de ouro líquido por cada cem quilómetros de banho de juventude que me ofereceu, solicitando a marca um valor muito aceitável por tanta moto oferecida: 7.820€.

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