segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Moto Guzzi V100 Mandello S à prova

E assim de repente é fevereiro. Do ano da graça de 2023, note-se. O tempo não para e apesar do inverno absolutamente clássico – chuva com fartura daquela que enche barragens secas e agora aquele frio de rachar que todos sentimos – é mais do que tempo de ruborizar o ESCAPE conferindo-lhe aquele tom cada vez mais ROUCO. 

Foto: Gonçalo Fabião

Confessamos que durante esta pequena paragem invernal ainda pensamos em fazer uns textos de receitas de ervilhas com ovos escalfados e outros tantos de trotinetes a pilhas e patins em linha. Contudo, encher chouriços e dizer parvoíces com um sorriso na cara nunca será a nossa especialidade. No ESCAPE cultivam-se velhas maneiras: é motorcycle only! Perdoem o nosso francês. E quem não gosta vai andando que nos já lá iremos ter. Aqui não se vende coisa nenhuma. 

Foto: Gonçalo Fabião

E nada como começar o ano com uma moto que, por um lado, ainda é 2022 e, por outro, é apenas e só a moto tecnologicamente mais evoluída saída da centenária fábrica Guzzi, situada nas margens do Lago Como. É também por isso que a Moto Guzzi V100 S traz Mandello no apelido. Mandello del Lario é precisamente a localidade italiana da região da Lombardia onde se localiza, desde 1921, a maternidade Guzzi. 

O PODER DA SÍNTESE 
Para saber do que falamos quando falamos de Moto Guzzi, deixem-me dizer-vos apenas mais uma coisa. Estes italianos fabricam motos desde os anos 20 do século passado; e em bom rigor são nos dias de hoje o fabricante de motociclos mais antigo a laborar ininterruptamente no espaço europeu. Só cá para nós que ninguém nos lê: quando se faz uma moto em Mandello del Lario é bem provável que se saiba o que se está a fazer, sim? 

Foto: Gonçalo Fabião

A Moto Guzzi V100 Mandello S foi de facto um desafio muito grande para a marca. Como fazer uma moto contemporânea e tecnologicamente avançada que ao mesmo tempo invoque uma lenda viva com mais de um século? Como sintetizar passado, presente e futuro num motociclo que de olhos fechados se reconheça como Guzzi? Esta V100 nasceu assim com a árdua tarefa de se assumir como um verdadeiro statement

ABRIR ASAS AO FUTURO 
Nas margens do Lago Como os italianos optaram por montar um novo bicilíndrico em “V” a 90º (1042cc, 115CV, 105Nm) acoplado transversalmente ao quadro de aço. Uma arquitectura que define imediatamente a Moto Guzzi enquanto fabricante de motociclos. Denominado de “bloco compacto”, este é contudo o primeiro motor refrigerado a liquido em mais de 100 anos de gloriosa historia Guzzi. Relevante! 

Foto: Gonçalo Fabião

Relevante é também o pack electrónico associado ao motor e que parte da já célebre unidade de medição de inércia de seis vias para nos oferecer controlo de tracção e ABS com função de auxílio em curva, acelerador electrónico com sistema de Cruise Control e quatro modos de condução - Tour, Rain, Road e Sport - cada qual com gestão independente dos três tipos de mapas de motor, dos quatro níveis de controlo de tracção, dos dois níveis de travão-motor e até do momento de abertura dos defletores aerodinâmicos laterais que fazem com que esta seja a primeira moto do mundo a incorporar a denominada aerodinâmica adaptativa. A unidade de medição de inércia permite ainda a regulação da suspensão semi-ativa Öhlins Smart EC 2.0 que proporciona dois modos de funcionamento (Confort e Dynamic). Para travar este conjunto que pesa 233Kg em ordem de marcha contem com material Brembo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Por falar na inédita aerodinâmica adaptativa, a marca afirma que “foram gastas mais de duzentas horas em túnel de vento com esta tecnologia” que pretende reduzir a pressão do ar no condutor. Supostamente os defletores laterais, quando abertos, reduzem a pressão do ar sobre o condutor em cerca de 22% incrementado o conforto no sentido de se aproximar de a Guzzi V100 Mandello Suma turística. 

DEFINIÇÃO E PERSONALIDADE 
Aqui chegados a questão é legítima. De que moto estamos a falar, quando falamos na Moto Guzzi V100 Mandello S? Uma stret bike? Uma roadster? Uma turística? Uma sport tourer? Um pouco de tudo isto? Uma síntese de tanto mundo? Ou simplesmente uma V100 Mandello S? 

Foto: Gonçalo Fabião

A verdade é que corremos o risco de estar horas a fio a contemplar a Moto Guzzi V100 Mandello S sem contudo conseguir encontrar respostas. A linha esguia, o sólido bloco de motor V2 transversal, qual vendeiro motor em fisga, e até o arrebatador monobraço traseiro com transmissão final por veio, remetem-nos imediatamente para um certo espírito de século XX. Mas a viagem ao passado é irremediavelmente interrompida quando olhamos em detalhe para as bonitas suspensões Öhlins e os sólidos elementos de travagem Brembo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Já quando colocamos a Mandello a trabalhar, mesmo se estivéssemos de olhos vendados, sentiríamos ser uma Guzzi de sempre. Todavia os primeiros metros de condução numa posição correta e que nos mantém sempre conectados com moto e estrada, habitando um espaço onde emerge um TFT colorido de cinco polegadas e um ecrã de protecção aerodinâmica regulável electricamente em altura, voltam a remeter-nos para o presente. 

ALMA DE VIAJANTE EM CORPO DESPORTIVO 
Outra verdade é que Moto Guzzi V100 Mandello S se assume como uma moto bem misteriosa e muito rica. Aquelas cabeças de motor brilhantes e douradas chamam a atenção de todos por onde ela passa. Na cidade a moto revela equilíbrio e facilidade de utilização apesar de uma brecagem limitada que não facilita minimamente a vida nas manobras citadinas. Já na estrada a Mandello começa a revelar toda a sua alma de viajante, contudo a protelação conferida pelo ecrã regulável é apenas suficiente e nos quilómetros que fizemos não encontramos relevância efectiva nos deflectores laterais da anunciada aerodinâmica adaptativa. 

Foto: Gonçalo Fabião

Curiosamente onde a V100 Mandello S se exprime em toda a sua nobreza é já com o modo de condução Sport “engatado” beijando o asfalto retorcido de uma estrada de montanha. Lá sentimos um motor sempre a respirar binário e a entregar alegria. Sentimos o conforto das Öhlins e a plena eficácia dos Brembo. Sentimos um quickshifter deslumbrante em combinação com uma transmissão final por veio como tanto este ESCAPE aprecia. Sentimos uma moto cheia de personalidade cuja ambição é até quem sabe conquistar carisma. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para nós a surpreendente Moto Guzzi V100 Mandello S é uma verdadeira sport turismo. Desportiva no comportamento, turística na atitude e sobretudo no desejo que nos deixa de procurar estrada aberta rumo a uma fuga pirenaica ou quem sabe até alpina. 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta V100 Mandello S em tom verde reclamou pouco mais de cinco litros do líquido dourado e inflamável que faz a nossa felicidade por cada cem quilómetros de alegria, solicitado a marca um valor muito aceitável por tanto motociclismo de qualidade superior oferecido: 18.400€

2 comentários:

  1. Gostei de ler o resumo sobre esta nota.
    Vou arranjar tempo para sexperimentar.
    Sempre em frente.
    Obrigado

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