segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

No Próximo Alentejo de Triumph Tiger 1200 GT Pro

Com fotografia de Gonçalo Fabião

Vamos dar uma volta de moto? Certamente. Todavia em que pensa o motociclista da grande Lisboa quando lhe falam em “dar uma volta de moto”? Marginal, Serra de Sintra, Cabo da Roca. É o clássico dos clássicos. Contudo o denso trânsito local e o crescente turismo massificado acabaram por transformar esta outrora jóia em algo que pode ser bastante desagradável. O encanto continua intacto todavia pode ser difícil de negociar. 

Nos últimos anos a Nacional 2 assumiu-se como a clássica das Estradas Nacionais

Com o tempo outro cabo mágico próximo da capital acabou por emergir. O Espichel, a sul da cidade, juntamente com as estradas próximas de Sesimbra e da deslumbrante Serra da Arrábida, pode ser as mais das vezes uma alternativa estimulante para a tal “volta de moto”. O excesso de tráfego lento, aborrecido e até potencialmente perigoso, em especial aos fins-de-semana e em tempo de verão, fazem muitos abandonar este possível plano B. 

Como diz "o outro" ir é o melhor remédio 

Plano C? Outra opção válida, todavia algo menosprezada, são as estradas do Oeste. Com infinitas possibilidades, é muito bom saborear a brisa atlântica e temperá-la com as abundantes vinhas da região. Há serra, montes, vales. Asfalto épico e também trânsito rural. Rude e imprevisível. Há dias em que cada curva é uma lotaria. 

É QUE É JÁ ALI ALÉM 
Urge pois encontrar alternativas. Mais seguras. Mais estimulantes. Mais bucólicas. Será possível? Claro que sim. É o que procuramos revelar neste texto. Entendam-no como uma mera sugestão de passeio. Não vamos certamente aqui “descobrir a roda” ou revelar a derradeira “volta de moto” da Região da grande Lisboa. É uma sugestão. Um escape, Uma fuga. Uma opção. Estas não serão as melhores curvas da vizinhança. É Alentejo. É Alentejo, todavia próximo. Aquele Alentejo que está perto. Imediato Vizinho. Um descanso. 

Ainda há sombra de Islão em Alcácer do Sal

A enorme vantagem desta volta de moto pelo Próximo Alentejo é que pode ser feita, em bom português, “à vontade do freguês”. Ou seja, quando e como muito bem desejarem. Um passeio de domingo que inclua a gastronomia da região. Ou simplesmente uma tarde de sábado bem passada entre vinhas e chaparros. Querendo, também podem passar um fim-de-semana pela estrada fora, a conhecer em detalhe as estórias da história, usos e lendas da região. No limite, quando os dias ficarem maiores, esta volta de moto até pode ser uma rápida fuga de fim de tarde apenas para rolar, sentir o calor do asfalto, a brisa tépida na cara e os suaves cheiros adocicados do estio. 

Cada um terá a sua...

Derrubando fronteiras meramente administrativas e burocráticas, o Próximo Alentejo começa logo ali, atravessada que seja a Ponte Vasco da Gama rumo a sul e rumo à Estrada Nacional 5, por nós denominada de “Estrada para Nenhures” (link). Hoje é mesmo por aí que vamos. Para já, para lado nenhum. 

ROAD TO NOWHERE 
É (era) Fevereiro. O dia amanheceu frio, seco e luminoso. Todavia rapidamente cumpriu-se o destino. “De Espanha nem bom vento nem bom casamento”, dizem. Ao atravessar para sul a sempre espectacular Ponte Vasco da Gama, os elementos castigaram-nos. Sol nos olhos e sobretudo aquele vento gelado de leste, o tal de Espanha. 

Tempo de fazer uso da útil pala do meu Nexx X.Wed 2 Vaal Carbon. O ecrã de protecção aerodinâmica facilmente regulável manualmente (com apenas uma mão) em altura da Triumph Tiger 1200 GT Pro foi puxado para cima e os punhos aquecidos ligados, ainda que apenas na primeira posição. Num ápice a Vasco da Gama, violentamente castigada pelo off-shore, estava vencida e lá rumávamos a nenhures. 

Rumo a sul ainda bem perto da capital

Abandonados os primeiros vestígios da Nacional 5 (N5) na zona do Montijo, a estrada mergulha rapidamente numa sequência de rectas demasiado estreitas todavia rápidas, entre vinha - nesta altura do ano aparentemente morta - e montado. Uma paisagem bucólica pontuada por animais pachorrentos e que nos faz esquecer que ainda há minutos abandonávamos o habitual caos lisboeta. 

O dia no seu inicio 

Em Águas de Moura prestamos a nossa devida homenagem a um dos sobreiros mais antigos do mundo, a denominada árvore do assobio ou sobreiro assobiador. São 235 anos de vida, dizem. A partir daqui e até Alcácer do Sal a N5 surge travestida de IC1, a antiga “estrada do (para o) Algarve”. Descaracterizada, optamos por ligar o cruise control da Tiger 1200 GT Pro nas longas retas e evitar surpresas com radares e afins. 

Mais que uma árvore um monumento 

A última secção da N5 liga Alcácer do sal à Barragem do vale do Gaio. É um troço de estrada nacional clássico, surpreendentemente desafiante e sem viva alma. Tempo de usar o modo de condução Sport e abusar das novas suspensões Showa semi-activas que equipam a Triumph e garantem conforto, eficácia e prazer na condução. Assim se passou num ápice uma manhã a fazer das coisas que mais gostamos. 

O fim da Nacional 5

BEIJAR A FOFINHA NACIONAL 2 
Confessamos que o objectivo inicial seria almoçar em Montemor-o-Novo. Mas perdemo-nos entre azinheiras, sobreiros, fotografias e conversa. Assim, quando chegamos ao Torrão e à agora popular Nacional 2, optamos por guardar telemóveis e lentes e aproveitar as longas e abandonadas retas alentejanas para dar alimento ao novo motor tricilíndrico Triumph (150 CV, 130Nm) agora dotado da nova cambota denominada “T-Plane”, motor que produz uma sonoridade distinta. Se havia por ali alguma cegonha a cumprir uma sesta…, certamente acordou com o rugido feroz do tigre. 

Nacional 2 ou a nossa endless road...

De certa forma Montemor-o-Novo marcava o início do regresso casa, O manto de nuvens não convidava à fotografia. Atacamos a Nacional 4 (link) rumo a oeste e afinal descobrimos que existem curvas naquele troço de estrada até Vendas Novas. Após a clássica bifana – muito mais lanche que almoço – até o sol voltou a brilhar para um adeus alentejano rumo à lezíria. 

A ÚLTIMA PEGA NA N10 
A nossa opção de regresso a Lisboa, nesta volta de moto pelo Próximo Alentejo, foi a opção à maneira antiga: pela Nacional 10 (link) rumo à Ponte Marechal Carmona - inaugurada a 30 de Dezembro de 1951 e foi a primeira ponte a ligar as duas margens do Rio Tejo na região de Lisboa - e a Vila Franca de Xira. 

Há mais do que bifanas em Vendas Novas

E por falar em clássicos, não foi possível resistir a fotografar as ruínas daquilo que em tempos foi uma referência da região e não só, a velha estalagem Gado Bravo. O que resta deste edifício localizado na denominada reta do cabo – entre Porto Alto e Vila Franca de Xira – são os vestígios de uma estalagem inaugurada a 2 de Outubro de 1952. 

Mandada edificar por Joaquim Augusto Faria tinha como objectivo tirar partido da inauguração da referida Ponte Marechal Carmona, que tornou à época esta estrada como a principal via de acesso não apenas ao Alentejo como também ao então longínquo e exótico Algarve. 

Aqui nada será como dantes

Os poucos que naquela época se atreviam a fazer, por exemplo, uma ligação rodoviária do Porto ao Algarve, encontravam ali uma espécie de referência da lezíria ribatejana. A “Gado Bravo” serviu ainda de ponto de encontro a lavradores, ganadeiros, toureiros, espiões, polícia e ladrões. Até Isabel II, Rainha de Inglaterra, por lá passou em 1957. Os salões decorados com motivos ribatejanos, o pátio e até uma pequena praça de touros concorriam para este oásis do passado se transformasse num liliputiano parque de diversões. Hoje restam ruínas. 

Quantos livros ficaram por escrever...?

Já com a borracha da Triumph Tiger 1200 GT Pro a beijar o Tejo junto a Vila Franca, perdermo-nos em imagens na golden hour. O dia tinha sido longo e rico. Todavia resistimos à auto-estrada e cumprimos a missão até ao fim. Em Alverca aproveitamos para subir até Bucelas desfrutando de uma mão cheia de curvas apimentadas na Estrada Nacional 116 (link). 

Golden hour, tejo e tudo

Da auto denominada capital do arinto - casta de uva branca presente de maneira geral, em todas as regiões de Portugal, e em especial nas encostas de Bucelas que formam um micro-clima com grandes variações diárias de temperatura, na época de maturação das bagas, e que lhes confere um especial sabor – foi um “salto” pela N115 (link) até Loures e enfim chagada à casa da partida. 


A TRIUMPH TIGER 1200 GT PRO 
A moto escolhida para este passeio alternativo pelo Próximo Alentejo foi a Triumph Tiger 1200 GT Pro. Moto de jante 19’’ em liga na roda dianteira e que monta num quadro em aço tubular com apoios em alumínio o motor tricilíndrico (150 CV, 130Nm) agora dotado da nova cambota com configuração denominada “T-Plane” que faz assemelhar a unidade motriz do funcionamento de um V2. 

Uma pequena paragem e uma surpresa na aldeia de Palma

Nesta versão recente da Triumph Tiger 1200 contem com o novo braço oscilante Tri-link (substancialmente mais leve que o anterior) que incorpora as vantagens de um veio de transmissão de baixa manutenção. O conjunto é parado por pinças Brembo Stylema conjugadas com uma bomba central dos travões Magura e ABS de origem Continental com função de auxílio em curva. 

Claro que há curvas no Alentejo

O enorme destaque na opinião deste ESCAPE vai para as novas suspensões Showa semi-activas (standard em toda a gama) que, para além de realizarem uma constante modelação da compressão e extensão – trabalho que a marca afirma ser elaborado ao milissegundo –, tem associadas as funções de anti afundamento na travagem, ajuste automático da pré-carga e controlo de transferências de massa (denominado sistema skyhook). Contem ainda com um novo painel de informação TFT de 7’. O conjunto pesa 240Kg com depósitos cheios. 

Já fazíamos tudinho outra vez...

A Tiger 1200 GT Pro revelou-se de forma obvia, naturalmente talhada para um dia de motociclismo assim, isto é, um dia longo onde não foram realizados muito mais de trezentos quilómetros, todavia uma jornada com potencial para “moer” com o para-arranca, sobe e desce constantes para fotografar a pequena viagem. No fim do dia o motociclista não apresentou cansaço digno desse nome e sim vontade de continuar a viagem após uma noite de sossego. A Triumph apenas precisou de reabastecer, tendo solicitado uns muito interessantes cinco litros e meio de sumo de dinossauro por cem quilómetros de sorriso nos lábios.

2 comentários:

  1. Adorei ler esta reportagem, muito bem escrita. Deixa-nos o desafio de a repetir, mesmo que noutra montada, a nossa. Deixo aquele cumprimento de quem anda em duas rodas e adora viajar, nem que seja ir ali ao Alentejo e voltar no mesmo dia...

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