terça-feira, 14 de maio de 2024

Moto Guzzi Stelvio 1000 (2024) à prova

Stelvio! Digam alto por favor: Stelvio. Mais alto: Stelvio!! Só o nome encanta. Lindo. Sonoro. Impossível não sorrir: Stelvio. Já foste? Queres ir? Vens? Eu vou regressar já no próximo mês de Junho. E vou subir aquela estrada lendária pelo menos mais uma vez. Pelo lado oriental. O mais desafiante. Se tiver tempo desço para ocidente e volto a subir rumo a oriente. Certo é que sairei dali para Norte, Suiça. 


Sim. Stelvio. Conheço bem o terreno, felizmente. Da ultima vez que beijei aquele asfalto de ocidente para oriente, desci nesse mesmo sentido. E voltei noutro dia a subir agora de nascente para poente rumo a Bormio. É uma alegria. Uma aventura. É paixão. É alpes. Bela Itália. É Stelvio! 

O “Passo dello Stelvio” é pois uma passagem de montanha italiana, localizada no Tirol do Sul, na fronteira entre duas das vinte regiões de Itália, Trentino-Alto Ádige e Lombardia. A estrada que cruza a passagem é notável e notória. Com inicio de construção em 1820, esta assume-se como a estrada de maior altitude na Itália: são 2757 metros. O “Passo dello Stelvio” é ainda a passagem de montanha asfaltada mais alta dos Alpes Orientais e a segunda mais alta de todos os Alpes, apenas 7 metros abaixo do Col de l'Iseran da França (2.764m). 

Em bom rigor a fronteira Suíça está logo ali ao lado. O Stelvio está ligado à deslumbrante Sta. Maria Val Müstair – situada num vale Reserva oficial da Biosfera da UNESCO - no norte pelo Passo Umbrail. Alguns dizem deste ser o "Pico das Três Línguas" (Dreisprachenspitze) pois é onde as áreas de língua italiana, alemã e romanche se encontram.

Diversas fontes revelam que a estrada original, hoje conhecida como “Passo dello Stelvio”, foi construída em 1820-25 pelo Império Austríaco para ligar a antiga possessão da Lombardia com a Áustria. São cerca de setenta e cinco curvas fechadas e deslumbrantes. Para muitos, sendo que estes títulos valem o que cada qual desejar, é considerada a “melhor estrada do mundo para conduzir”. 

Notem que o Stelvio é também um dos muitos Parques Nacionais italianos e abrange o maciço Ortles-Cevedale, bem como algumas cadeias menores que o flanqueiam. É um dos mais antigos Parques Nacionais, na verdade. E conta com um tamanho equivalente a cerca do dobro do nosso único Parque Nacional, o Peneda-Geres.

QUALIDADE E PERSONALIDADE
É este o enquadramento glorioso, épico mesmo, que nos oferece a Moto Guzzi quando em Novembro de 2007, invariavelmente no EICMA de Milão, decide apresentar ao mercado uma moto de características maxi trail numa tentativa de resposta à referência da época, a inevitável BMW R 1200 GS. A Stelvio original foi pontualmente actualizada, todavia viria ser “arrumada” pela marca cerca de dez anos após o seu nascimento.


Para 2024 a marca nascida em 1921 nas viçosas e deslumbrantes colinas de Mandello del Lario, margem nascente do Lago Como, decide fazer nascer de novo a Stelvio, que se impõem como uma moto para os dias que correm desde logo com um desenho novíssimo, impactante e fresco. 

A Stelvio apresenta o novo motor V-twin transversal com os cilindros a formarem uma abertura de 90 graus – 1042cc, 115cv, 105Nm (este é o denominado “bloco compacto”, apenas o primeiro motor refrigerado a liquido em mais de 100 anos de gloriosa historia Guzzi. Relevante! Contem também com um novo quadro em tubos de aço, que aproveita o bloco do motor como elemento estrutural de reforço, particularmente reforçado na sua secção frontal com quatro pontos de fixação do motor em vez dos dois da V100, moto de onde este elemento é originário. 


Face ainda à V100 Mandello - provada por este ESCAPE aqui (link) -, a nova Stelvio possui um veio de transmissão reforçado em comparação com a sport-turismo da marca, com o objectivo de suportar os esforços da condução fora de estrada, dando uso ainda a um monobraço oscilante fabricado em alumínio. A tecnologia e electrónica são assim de referência, tendo esta como ponto de partida a já famosa IMU – unidade de medição inercial - de seis vias. 

As suspensões foram também elas especificamente desenvolvidas para esta moto. A forquilha invertida Sachs conta com bainhas de 46 mm e é ajustável em extensão e pré-carga e no eixo traseiro a Moto Guzzi montou um amortecedor KYB, com as mesmas possibilidades de afinação e curso que são disponibilizadas na dianteira. A travagem é Brembo e as jantes são de raios e nas dimensões de 19’’ e 17’’. 

SOLIDEZ E EQUILIBRIO 
Motos há em que o peso parece ser um tabu. Ninguém fala, poucos revelam e ficam mais as duvida do que as certezas. O peso não é apenas e só um numero. É algo que se sente. E o peso não é todo o mesmo. Motos há que pesam muitos quilos e sentem-se leves. Sendo o inverso também realidade. Quando a comunicação é obscura entra a especulação. Nesta Stelvio são 246Kg. A cheio? A seco? Não é claro. E por aqui vamos. A moto é física. Musculada. O tal bloco compacto emerge. Stelvio é uma montanha. A moto sente-se também ela solida ainda parada. 

Foto: Moto Guzzi

Se solidez é a primeira palavra chave, rapidamente encontramos a segunda: equilíbrio. Depois daquele primeiro sonoro e algo assustador “CLACK!!!!!” quando accionamos a primeira velocidade, tudo flui com harmonia. O motor é dócil a baixa rotação e isso é bom. Notamos mesmo aquilo que nos parece ser alguma preguiça em subir de regime. A propósito, alguns parecem dizer que a moto aparenta ter menos potencia do que a revelada. Errado., profundamente errado. Já na estada vamos provar que há energia mais do que suficiente par impulsionar a Stelvio. Há binário solido. É necessária rotação. A opção da marca foi, e muito bem, tornar a moto fácil de conduzir a baixas velocidades melhorando a utilização em espaço urbano e no fora de estrada lento. O motor é elástico. E também poderoso. Precisa de espaço para se exprimir. E isso é muito bom. 


A travagem é de qualidade e potente obrigando a alguma adaptação pela sua mordacidade. A nota de fabrica na suspensão é algo seca. Não ajustei. Deixei que a engenheira se exprimisse. No final do dia há comportamento, conforto e eficácia apesar da aspereza. Habituem-se. Todo o conjunto funciona com músculo e definição. Há aqui personalidade. Não é mais uma trail ou maxi como lhe quiserem chamar. É a Moto Guzzi Stelvio que conduzimos e não o “enésimo” bicilíndrico paralelo da vida. Temos entre nós um bloco solido de baixo centro de gravidade que curva rumo ao infinito oferecendo uma experiência incrível de condução. Notem: vibrações zero. Que delicia… 

Aproveitei todo este cenário e convidei a Miss Yoshimura para uma volta pelos luminosos arredores de Lisboa e pedi-lhe o relato da experiência: nada acontece por acaso e, poucas semanas antes de realizar mais um sonho, o de viver a experiência dos Alpes, incluindo a estrada mais alta de Itália, o “Passo dello Stelvio”, recebo a oportunidade de me sentar numa Moto Guzzi Stelvio 2024! É caso para dizer que, com Stelvio à porta, o primeiro passo está mesmo aqui ao lado. E, já agora, não me lembrava da última vez que saí da minha zona de conforto de forma tão confortável! É assim que “defino”, sem saber ainda nada muito técnico, esta moto: puro conforto! 

Foto: Moto Guzzi

Quando me refiro a conforto, refiro-ma ao conjunto de malas que pode haver, numa trail como esta, com esta cilindrada e que, convenhamos, dá-nos muito mais segurança para subir nela. Ainda assim, não precisei de malas nenhumas para me sentir “em casa”. Este ano não tenho tido muitas ocasiões de desfrutar de duas rodas, por vários motivos, e quis o destino que o recomeço fosse feito nesta moto, ainda que no papel de passageira do ESCAPE, mas com a mesma paixão e genuinidade que o próprio viveu! Lá fomos nós, desfrutar das curvas da Arrábida e sentindo a personalidade da moto. Aqui para nós que ninguém nos ouve, nem eu me apercebi bem do momento em que o Pedro rodou o punho até aos …km/h (não posso revelar), tal é o conforto e solidez desta moto. Não se sente nada, para além de prazer! Ficou aqui uma vontade de retomar as actividades sobre duas rodas, ainda que no papel de passageira, e assim ganhar a minha própria experiência como motociclista aprendiz. 

A Moto Guzzi Stelvio 1000 (2024) provada não estava equipada com o PFF Rider Assistance Solution, um equipamento opcional, que utiliza a tecnologia 4D Imaging Radar desenvolvida pelo programa de robótica Piaggio Fast Forward fundado em 2015 em Boston, Estados Unidos. Todavia vinha equipada com o opcional quickshift bidirecional que casa de forma brilhante na transmissão final por veio, fazendo deste um dos elementos de destaque da Stelvio. Sim! É possível fazer transmissões finais por veio leves, solidas e muito divertidas. A Moto Guzzi é apenas mais uma marca europeia a faze-lo. Se outros não fazem é porque não querem. Ficou claro? 


E é isto. Bela moto. A protecção aerodinâmica podia ter mais um par de centímetros e continuo com dificuldade em me entender com aquele “coiso” que faz accionar o “cruise control”. Assim, se este ESCAPE desse notas, oferecia com prazer oito sonoros reteres a esta Moto Guzzi Stelvio 1000 (oito em dez, sendo que dez seria apenas para as obras primas e nove para o estado da arte, faço me entender?). A marca pede 16.500€ por esta deliciosa turística de aventura que solicitou pouco mais de cinco litros do liquido doirado que nos faz sorrir por cada cem quilómetros de paixão oferecida

Raterómetro ******** (8/10)

3 comentários:

  1. Essa motoca está muito bem!!!
    No momento, seria a única que me faria trair a querida ST😜

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  2. Possuo actualmente uma v100s e tenho pena de não ter suspensão eletrónica, caso contrário trocava.
    Pode ser que para o ano venha com uma.

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