quinta-feira, 20 de novembro de 2025

E agora? Honda CB1000GT ou Honda NT1100?

Há quem diga que já andou com a Honda CB1000GT. A moto estará por estes dias a ser apresentada em Espanha à “elite” do costume que nos vai debitar os lugares comuns de sempre tais como “a proteção aerodinâmica, bem… na versão de série, não é grande coisa. O corpo fica muito exposto e, ao nível das mãos, os punhos estão pouco protegidos: os defletores de origem são estreitos, não impressionam. Com o pack de acessórios e a bolha alta melhora bastante. (…) O que gostámos? O quatro cilindros. Ter 150 CV para brincar numa estrada secundária é qualquer coisa de maravilhoso. O que gostámos menos? Os baixos regimes. O motor é mais vazio cá em baixo. Apreciámos bastante o fator preço. Quatorze mil euros é significativamente menos do que os 15 699 € de uma Yamaha Tracer 9 GT, e o equipamento da Honda é, honestamente, muito completo.”. As palavras são de um suposto jornalista de uma publicação francesa especializada dita de referência


DOIS CAMINHOS PARA A GRANDE VIAGEM 
Digam-me vocês se é isto que as marcas esperam de um evento que lhes custa dezenas de milhares de euros por convidado. Aqui no ESCAPE não vamos por ai e sim por um caminho que nos parece muito mais interessante e deseja dar respostas a quem delas precisa. Querem ler? 


Na verdade a Honda fez uma jogada de mestre. Pegou no guarda-chuva do Sport-Touring, um segmento que exige tanto do corpo quanto da alma da moto, e decidiu preenchê-lo com duas filosofias aparentemente opostas e igualmente interessantes. De um lado, a já estabelecida e amplamente acarinhada NT1100. Do outro, o furacão recém-chegado: a nova CB1000GT. Não são rivais, são facetas de um mesmo ideal de viagem, e é exatamente aí que reside a beleza da escolha. 

HONDA NT1100 OU A HERANÇA DA ESTABILIDADE E DO CONFORTO 
A Honda NT1100, lançada em 2022, marcou uma nova etapa na abordagem da marca ao turismo. Para 2025, o modelo recebeu uma atualização significativa, centrada sobretudo no aumento do conforto e na melhoria do comportamento dinâmico. O motor bicilíndrico foi revisto para oferecer melhor resposta na faixa média de rotações. A introdução de uma IMU de seis eixos permite agora gerir com maior precisão os sistemas eletrónicos de assistência — incluindo controlo de tração, ABS em curva e modos de condução. A gama passou a incluir uma versão NT1100 DCT com suspensão eletrónica Showa-EERA™, que complementa a variante com caixa manual e suspensões convencionais. 


A carenagem foi redesenhada, com linhas mais discretas e funcionais. O novo para-brisas, regulável em altura com uma só mão, e os defletores superiores e inferiores revistos aumentam a proteção aerodinâmica e a estabilidade a velocidade de cruzeiro. Os faróis foram atualizados para um conjunto LED duplo com luzes diurnas (DRL). O guarda-lamas dianteiro foi alongado em 150 mm, melhorando a proteção contra a água e sujidade. O banco é agora mais largo e as malas laterais de série passam a ter maior capacidade. 

Para 2026, tanto a NT1100 como a NT1100 com suspensão eletrónica mantêm todas as alterações introduzidas no ano anterior e recebem apenas uma nova opção de cor. A Honda procura assim reforçar a posição dominante do modelo no segmento de turismo na Europa. 


Em bom rigor a NT1100 nunca escondeu o seu parentesco. O seu ADN é o da lendária Africa Twin, filtrado e adaptado para o asfalto. Ela transporta o espírito da Tourer clássica da Honda – a descendente espiritual das ST Pan European. 

A Honda NT1100 é herança e espírito: é a moto do conforto, da robustez e da viagem sem esforço. O seu espírito é o de um companheiro de longa distância, inabalável perante o mau tempo e os quilómetros. Posiciona-se como a Grand Tourer Versátil da gama, o degrau natural para quem valoriza a posição de condução vertical, a proteção aerodinâmica total e a capacidade de bagagem, mas quer algo mais leve e ágil que uma Gold Wing. A Honda NT1100 atrai o motociclista que percorre longas distâncias, muitas vezes a dois, que valoriza a serenidade da viagem, a facilidade do DCT (quando equipado) e que vê a moto como uma ferramenta sofisticada para devorar mapas. 

HONDA CB1000GT OU O SANGUE FERVENTE DA PERFORMANCE 
A CB1000GT, pelo contrário, vem diretamente do mundo da performance. É uma nova proposta no segmento das sport-tourer, baseada na plataforma da Hornet de maior cilindrada. O modelo utiliza um motor de quatro cilindros em linha de 1000 cm³ com comando eletrónico do acelerador (Throttle-By-Wire), afinado para uma entrega progressiva e com desempenho elevado.


O conforto e a capacidade para viagens longas foram prioridades no desenvolvimento. Há espaço generoso para condutor e passageiro, e a suspensão é assegurada por um conjunto Showa com controlo eletrónico (Showa-EERA™), fornecido de série. A travagem dianteira recorre a dois discos de 310 mm com pinças radiais de quatro êmbolos, geridos por ABS em curva através de uma IMU de seis eixos. 

O equipamento standard inclui um para-brisas ajustável em cinco posições, malas laterais, controlo de velocidade de cruzeiro, punhos aquecidos, protetores de mão, descanso central e quickshifter. A vertente prática é reforçada por um painel TFT de cinco polegadas com conectividade via Honda RoadSync, chave inteligente (Smart Key) e piscas com cancelamento automático e função de aviso de travagem de emergência (ESS). 


Numa palavra, estamos perante a versão "Touring" da radical CB1000 Hornet, o que a liga diretamente ao sangue quente das CBR Fireblade de outrora. Não é uma moto que se vestiu de desportiva; é uma desportiva que aceitou vestir-se para a viagem.

A Honda CB1000GT não deixa de ser também herança e espírito: este ultimo é o da adrenalina, da precisão cirúrgica e da potência exuberante. É a Sport pura que, por acaso, também pode levar malas. É o High Performance Tourer de que a Honda sentia falta, a resposta direta ao motociclista que recusa abdicar da emoção de um motor de quatro cilindros em linha, mesmo que tenha de fazer 500 km num dia. Atrai o motociclista experiente que tem um apetite voraz por curvas, que faz dos Alpes o seu parque de diversões, e para quem o prazer da condução está acima do conforto absoluto, mas que, ainda assim, aprecia os gadgets de topo e a capacidade de viagem. 

A DIFERENÇA ESTÁ NA ORIGEM DO MOTOR 
Na Honda NT1100 temos o bicilíndrico Unicam. Uma obra-prima de binário a baixa e média rotação. O seu curso mais longo e o intervalo de ignição de 270° oferecem uma entrega de potência suave, um som de escape off-beat viciante e uma tração fantástica. A sua ciclística de longo curso (mais altura ao solo) absorve o mau piso como um tapete voador, priorizando a estabilidade direcional. 


Na Honda CB1000GT temos o tetracilíndrico DOHC (derivado da Fireblade) foi "desafinado" para o Turismo, mas ainda assim entrega cerca de 150 CV de potência máxima a alta rotação. A entrega espera-se mais linear. A sua suspensão eletrónica Showa EERA de série, com curso mais curto, e o quadro rígido devem garantir uma precisão na inserção em curva digna de superbike. 


Assim o comportamento em estrada espera-se diametralmente oposto. A NT1100 "flutua" sobre o asfalto com uma calma soberana, transmitindo confiança e relaxamento. A CB1000GT deve misturar-se com a estrada, respondendo a cada micro-input do guiador com a velocidade e a exatidão de um bisturi. 

PROPÓSITO E UTILIZAÇÃO REAL 
Por experiencia própria sei que a Honda NT1100 brilha em dois cenários, autoestrada e viagens longas: O seu grande ecrã ajustável, as amplas carenagens, o depósito de 20,4L e a ergonomia de "poltrona" fazem dela a parceira ideal para atravessar países. A fadiga é mínima, e o DCT transforma a condução em trânsito e as mudanças constantes em algo trivial. É a companheira ideal para longas distâncias. O conforto do passageiro, a facilidade de manobra a baixa velocidade (apesar do peso) e as malas de série bem integradas tornam-na extremamente prática para o dia-a-dia de quem também faz muitos quilómetros no fim de semana. 

Já a Honda CB1000GT parece tem um único propósito: Sport-Touring, com a ênfase no Sport. Montanha e curvas rápidas: é aqui que a CB1000GT se quer transcender. A sua afinação de motor de alta performance, o quickshifter de série e a suspensão eletrónica, devem permitir um ritmo alucinante. É a moto que te faz procurar a emoção pura ao guiador, trocando a calma da autoestrada pelo desafio da estrada secundária. Embora tenha cruise control, malas de série e um ecrã ajustável, a sua ergonomia ligeiramente mais inclinada para a frente e a natureza do motor quadricilíndrico convidam a paragens mais frequentes, mas garantem que os troços entre elas são inesquecíveis. 

FILOSOFIA DE DESIGN E EXPERIÊNCIA EMOCIONAL 
O desenho da NT1100 é guiado pela funcionalidade. As linhas são limpas, fluidas e robustas. A sua carenagem volumosa é uma promessa de proteção contra os elementos. Sport-Touring para a NT1100 é conforto e capacidade de bagagem com agilidade. É uma abordagem Adventure-Touring adaptada ao asfalto. A moto transmite conforto, segurança e precisão. A sensação é de controlo total sobre uma máquina que é maior e mais madura. O prazer mecânico reside na cadência suave do bicilíndrico, ideal para relaxar o pulso. 


Na CB1000GT é (supomos) desempenho agressivo. E toda ela atitude. O seu desenho, herdado da Hornet, é desafiador, angular e focado na aerodinâmica pura. A dianteira é musculada, mas o assento e a traseira são esguios, focados na dinâmica e não tanto no volume. Sport-Touring para a CB1000GT é performance máxima com o mínimo de compromisso no conforto. É a abordagem Superbike-Touring. Imagino que seja uma moto que transmite emoção, precisão cirúrgica e adrenalina. O condutor sentir-se-á integrado na moto, pronto para atacar a próxima curva. O prazer mecânico é o do motor de quatro cilindros a "berrar" quando o ponteiro sobe e a suspensão eletrónica a endurecer, dando um feedback instantâneo da estrada.

DUAS FACES DA MOEDA HONDA
A NT1100 e a CB1000GT não são rivais; são, na verdade, os dois pilares que definem o Sport-Touring no universo Honda. São complementares e representam duas escolas distintas de pensamento sobre o que constitui a viagem perfeita. 


A NT1100 é a "Tourer" que se porta bem nas curvas. É o ponto de referência para a comodidade e a versatilidade, a escolha racional e emocional para a grande viagem. O seu lugar é como a mais competente, acessível e completa Tourer de média-alta cilindrada do mercado moderno. Já a nova CB1000GT é a "Sport" que aceita malas e cruise control. É a opção para quem só se satisfaz com o som do tetra-cilíndrico a alta rotação, levando a emoção das Superbikes para as longas distâncias. O seu lugar é na prateleira das High-Performance Tourers, onde a Suzuki GSX-S1000GT, por exemplo, se sente em casa. 


A Honda conseguiu o que pretendia: mostrar que a premissa de conforto + performance + tecnologia pode dar origem a motos com almas completamente distintas. A NT1100 quer que chegues ao teu destino relaxado. A CB1000GT quer que chegues ao teu destino com um sorriso rasgado e o coração aos saltos. A escolha é tua, motociclista.

Que estrada vais querer percorrer?

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