domingo, 17 de junho de 2018

MV Agusta Brutale 800 à prova

Horas de contemplação. Ate que a vista nos doa. Se este já é o primeiro principio a observar quando travo conhecimento com uma mota (para mim) nova, aqui, o princípio assume característica de Valor. A Brutale merece que olhemos para ela e nos concentremos nas suas linhas esdruxulas. Ela gosta. E parece seduzir-me com a questão travessa: Pedro, quando foi a última vez que fizeste algo pela primeira vez? 

Depois da contemplação a fruição. Antes, a desadaptação. A posição de condução - o encaixe das pernas, o angulo dos pés, o corpo ligeiramente pousado nos pulsos - de ataque conjugada com os números do tricilindrico – 116 CV e 83 Nm, 90% dele disponível ainda abaixo das 4000 rpm – impõem acima de tudo respeito. 

O respeito é muito bonito mas para tirar partido dos prazeres da vida há que haver alguma dose de desacato ou mesmo insubordinação. É o que faço na primeira de duas passagens pelos “meu” quintal, composto por uma infinita sequência de curva-reta-curva algures a Norte de Lisboa. 

Se a primeira passagem confirmou uma mota fisicamente exigente mas nobre, a segunda - à hora em que todos os palermas estavam colados à televisão a ver uma vagamente interessante Final de Taça de Portugal em futebol e deixaram a estrada literalmente só para mim – revelou-me uma mota que pura e simplesmente redesenha a estrada. 

Quando chamada à luxuria tudo impressiona na MV Agusta Brutale 800. O motor grita e impulsiona-nos dramaticamente de uma para outra curva da estrada. Quando chamada ao festim a travagem impressiona tal como toda a dinâmica do eixo dianteiro. 

Mas nem tudo são rosas, senhores. A caixa demonstra alguma falta de precisão e o quick shift está longe de ser perfeito. O interior das pernas queixou-se do ponto anguloso da mota onde tocam. E os menus para acertar controlo de tração e potência do ABS podem ser bastante melhorados.

Esta Brutale não é para todos! Ter consciência disso mesmo é um excelente ponto de partida para aprendermos a maximizar o prazer que retiramos da condução desta bela selvagem. Foi o que tentei fazer. E nem foi necessário usar o modo de condução “Sport”. Para o meu “kit de unhas” o modo “Normal” revelou-se mais que suficiente. 

Foi bom, muito bom, fazer algo pela primeira vez. A bela selvagem foi realizada e produzia não para se dar mas sim para se revelar. E quanto mais conhecemos, quanto mais exploramos, maior o gozo que subtraímos, num tentador e perverso jogo de sedução com dimensão de ciclo vicioso. O inferno, também conhecido por bomba de gasolina, reclamou seis litros e meio de líquido inflamável por cem quilómetros de luxuria e os representantes da casa italiana em Portugal pedem uns muito aceitáveis 14.990€ por este pedaço de pecado mortal.

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