domingo, 6 de fevereiro de 2022

BMW R 1250 RT à prova

Manhã do dia 1 de Fevereiro. Fevereiro, bolas. Já Fevereiro! O céu contínua azul, o sol brilha e o vento leste sopra mantendo as temperaturas baixas. Ao acordar, deixo-me ficar e actualizo o devir noticioso. Passo também os olhos pelas redes sociais e noto nas memórias digitais que este dia mas no ano de 2014 trazia um destaque vindo do meu instagram pessoal – em 2014 ainda este ESCAPE não tinha visto a luz digital. Tinha sido há exactamente sete anos o meu último contacto com a RT da BMW, à época ainda com a motorização 1200cc. Acompanhava tal imagem apenas uma palavra: soberba. 

Foto: Gonçalo Fabião

Mas a minha relação com a Reise Tourer – ou seja Travel Tourer, que é como quem diz na tradução possível para português Moto de Viagem – vem de longe. Sublinho sucintamente apenas outros dois momentos. Em Maio de 2013 comparámos na MOTOCICLISMO - a verdadeira - a RT da época com a Yamaha FJR 1300 A e com a Triumph Trophy 1200 SE, num confronto perentoriamente vencido pela moto britânica que, contudo, viria a ser perfeitamente ignorada pelo mercado português. Lá mais no passado, no final do século XX (já não me recordo se em 1998 ou 1999), fui de RT 1100, a convite dessa mesma revista e da marca, acompanhar o clube BMW numa inesquecível viagem relâmpago a Casablanca, Marrocos. Viagem essa cheia de boas peripécias e surpresas várias como a visita à sumptuosa mesquita nova da cidade que tinha sido recentemente inaugurada. 

UMA FAMA QUE VEM DE LONGE 
Confesso. Mais do que uma velha amiga, a RT soa-me àquele eterno crush que parece passar uma vida inteira a olhar para o lado quando nos cruzamos. Mais recentemente, nos últimos meses, tenho tentado ter a moto também aqui no ESCAPE, até porque os leitores assim o exigem. E foi precisamente por iniciativa de um leitor que cheguei à Santogal Motorrad no sentido de ultrapassar as barreiras de comunicação incompreensivelmente colocadas pela marca. Muito obrigado a quem se afasta do problema e sabe colocar-se do lado da solução. 

Foto: Gonçalo Fabião

As origens da Reise Tourer da BMW remontam, pelo menos, há quase 50 anos. Todavia, a RT tal como a conhecemos com recurso à “santíssima trindade” Telelever-Boxer-Paralever (suspensão dianteira-unidade motriz-suspensão traseira) nasce em 1996, com destaque à época para a potência do motor que subia significativamente para 90 cv. No entanto, Munique manteve o desenvolvimento da sua turística de referência ao longo dos anos. 

NO ZUGSPITZE DA TECNOLOGIA 
Hoje, na presente BMW R 1250 RT, encontramos uma moto vanguardista que faz da electrónica uma forte aliada do boxer de 1254 cc com distribuição variável ShaftCam (136 cv, 143 Nm). Para além do inovador painel de instrumentos TFT colorido de 10,25 polegadas – cuja resolução de 1920x720 pixels e o seu formato alongado permitem que seja configurado em duas secções, mostrando em simultâneo informações sobre a condução e o mapa de navegação ou dados sobre o estado da moto - a actual RT oferece três modos de condução de origem, incluindo o novo modo Eco, para uma condução energicamente mais eficiente - modos Pro mantém-se como opcionais. 

Foto: Gonçalo Fabião

De fábrica é também o inquestionável BMW Motorrad Full Integral ABS Pro, em que ambos os travões são accionados quer apertando a manete, quer pressionando o pedal de travão, tendo também este sistema combinado de travagem função optimizada em curva. O Dynamic Cruise Control equipa também de origem a RT. Este sistema mantém constante a velocidade estabelecida, mesmo em descida. Para isso, o sistema recorre à travagem quando o efeito de travão-motor não é suficiente para impedir a moto de exceder a velocidade de cruzeiro estabelecida. 

Foto: Gonçalo Fabião

Como opcional a BMW propõe o Active Cruise Control, implementando um sistema de radar. Não falaremos dele pois esta moto não o tinha disponível – ao contrário da moto de parque de imprensa que não nos foi cedida. As coisas são o que são… 

Foto: Gonçalo Fabião

Sou ainda um confesso fã das suspensões electrónicas da casa bávara, que ganham agora ajuste automático tendo em conta o modo de condução seleccionado e a natureza de piso detectado. Estão disponíveis dois modos de regulação, um mais “confort” e outro mais dinâmico, tendo este último uma configuração mais “sport”. De sublinhar ser possível comutar em andamento tais modos. 

PECADO CAPITAL 
Soberba, disse. E repito. Mais do que adjectivo, soberba é aqui nome feminino (do latim superbia). E significa orgulho, altivez, elevação e até um quanto baste de arrogância. Justificamos. A BMW R 1250 RT é orgulhosa pois não esconde nunca a sua condição de rainha do motociclismo no seu segmento, afirmando-se pelo seu desempenho luxuoso. Não é sport tourer, não é grand tourer é simplesmente tourer: a tourer

Foto: Gonçalo Fabião

A BMW R 1250 RT é altiva pois não cede a outra em brio, aqui traduzido por qualidade e eficácia. Qualidade superior de todo o conjunto. Onde, em bom rigor, nada falta. Eficácia no seu propósito de longas e cómodas viagens, não esquecendo todavia que pode ser uma moto do dia-a-dia, sendo que os seus cerca de 280 quilos em ordem de marcha se sentem “leves” para uma utilização urbana e suburbana – aqui a agilidade e facilidade de utilização não deixam de surpreender num conjunto destas dimensões. 

Foto e edição: Gonçalo Fabião

A BMW R 1250 RT é ainda elevada pois é nobre e distinta. Elegante apesar da sua dimensão, singular e mesmo ilustre. Demonstra uma fina educação bávara consequência do seu ADN e do seu processo evolutivo. Desempenho e prazer na condução são directamente proporcionais aos quilómetros. É daquelas, raras, que quanto mais andamos mais queremos andar. 

SONHO MEU 
Cumprindo o seu destino de soberba a R 1250 RT tem ainda o seu quê de arrogância. São cerca de 21.000€ que a marca pede pela versão base. Todavia uma unidade plena de extras (e ainda consoante a cor escolhida) pode ascender a perto das três dezenas de milhares de euros. Premium também no valor. Faz sentido. Soberba a cumprir o seu destino. 

Foto: Gonçalo Fabião

O melhor e mais honesto que posso ser é escrever que esta BMW R 1250 RT podia muito bem ser a minha moto, a moto deste ESCAPE MAIS ROUCO..., ou não seja eu uma pobre e triste viúva da Honda ST 1100 Pan-European - senhora que me acompanhou mais de década e meia e me levou por quase duas centenas de milhar de quilómetros. 

Foto: Gonçalo Fabião

Não é fácil encontrar pontos fracos na R 1250 RT ou sequer algum aspecto menos positivo. Mesmo o consumo da prova cifrou-se nos cinco litros e meio do tal líquido inflamável fundamental à nossa salubridade, por cem quilómetros de deleite na condução. A BMW R 1250 RT é uma moto que faz sonhar. Deixou saudade. Se alguém por aí me quiser vender uma, tem bom remédio…, faça acontecer.

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