terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Honda NT 1100 DCT à prova

Uma centena. Se seguirmos este link (aqui) ficamos a saber que neste ESCAPE estamos próximos de comemorar a primeira centena de motos provadas. É obra. Nem eu sabia terem sido tantas (e tão boas…). Foi com curiosidade que procurei este número e foi com choque e espanto que me dei conta de tanto caminho que já foi percorrido. A esmagadora maioria das vezes tem sido muito fácil falar e escrever sobre uma moto. Quando se faz com paixão e respeito tudo flui. Todavia há excepções. E esta é uma delas. A nova NT convoca-nos dos sentimentos mais antagónicos que alguma vez vivemos com uma moto. E isso é desde logo muito bom. 

Foto: Gonçalo Fabião

A marca nipónica é clara e objectiva ao que pretende vir e no documento datado de 21 de Outubro de 2021 em que apresenta a nova NT, as primeiras palavras são fortes e inequívocas: “A Honda estreia uma nova referência para o segmento Touring.”. PUMBAAAA!!! Nem mais nem menos!! 

Foto: Gonçalo Fabião

“Honda”. “Referência”. “Touring”. Tudo numa pequena frase. Os alarmes soaram imediatamente. Assim, no ESCAPE, este não será obviamente o primeiro post sobre a já famosa proposta da Honda. Aqui (link), entre dúvidas e questões várias, escrevi: “a nova era do Touring não o é por si própria. A nova era do Touring não o é para todos certamente. O que fica para todos não será a viagem e sim o sonho da e com a mesma. Ou então…, provem-me apenas que estou errado. E deixem-me entender que esta moto com as cores dignas da tal perfeita monotonia eficaz, inaugura de facto um novo tempo para o turismo de moto”. 

O FABULOSO DESTINO DE ROBERT EDISON FULTON JR. QUEM?? 
Aparentemente, o turismo tal como o conhecemos hoje - com excepção das viagens comerciais, que tiveram início por volta de 3000 a.C. - terá começado durante a revolução industrial no século XIX, quando o dia de trabalho passou a ser de “apenas” oito horas e em alguns casos foram estabelecidos sistemas de descanso remunerado. Desta forma os trabalhadores começaram a pensar em visitar zonas exóticas ou locais com monumentos ou praias. 

Não é fácil encontrar as origens do mototurismo. Já aqui (link) neste ESCAPE demos conta da fabulosa história das Van Buren. As irmãs Van Buren, foram das primeiras mulheres motociclistas da história e realizaram um “coast to coast” norte-americano no longínquo ano de 1916, tendo sido mesmo as primeiras mulheres a conduzir veículos motorizados até o cume do mítico Pikes Peak. Todavia, aquela viagem teve uma natureza de absoluta expedição (um acto de superação e afirmação) e não tanto turismo como hoje o conhecemos. 

Na verdade Robert Edison Fulton Jr, terá sido o primeiro mototurista da história. Alguns dizem que em 1931, quando Fulton Jr festejava com amigos o términus do curso de arquitectura na Universidade de Viena, lançou a ideia que gostaria de fazer uma grande viajem de moto, precisando para tal de uma moto confiável. Entre os presentes na festa teria estado o fabricante das motos Douglas, que mais tarde lhe cedeu uma moto de dois cilindros para a sua aventura. 


Com apenas 23 anos de idade, Fulton partiu então numa viagem solitária de dezenas de milhares de quilómetros pelo mundo fora e que durou mais de dezoito meses. Tudo foi registado no livro "One Man Caravan". A obra lançada apenas em 1937 não é o clássico diário motociclista e sim um relato genuíno em tom por vezes ingénuo, outras divertido. Na obra, mais do que rotas e destinos, vamos encontrar personagens, histórias e a visão ocidental de algumas sociedades. As questões impõem-se: será que o mototurismo hoje, século XXI, 2022, ainda é uma actividade refrescante que trata de superação, afirmação, aventura, genuinidade e diversão? 

O DESPORTO ENTRA NO TOURING, DIZEM… 
Eu alertei. Escrever sobre a Honda NT 1100 DCT não seria tarefa fácil. Desde logo porque neste momento já todos sabem tudo sobre a proposta da Honda que deseja ser “uma nova referência” e eu não vou aqui repetir a lengalenga da influência estética da X-ADV 2021 (link) e da influência técnica e tecnológica da CRF 1100L Africa Twin (link). 

Foto: Gonçalo Fabião

E dito isto, para bom entendedor, já está muito dito. A NT nasce então da estranha metamorfose entre estes dois veículos. Um deles, a X-ADV, já é mestiço por natureza, pois assume-se com uma mistura fina de estilos que vai do urbano ao roadster sem esquecer um belo passeio fora de estrada pelo campo ou quem sabe uma incursão turística até mais além. O outro, a CRF 1100L Africa Twin na sua versão base, é pela sua natureza eclético, assumindo-se como uma moto fácil de utilizar (na cidade, em estrada, no campo) e acessível à maioria das contas bancárias. 

Foto: Gonçalo Fabião

Ficou claro? A NT é na sua ontologia, o seu ser em si, o que vai descrito no último parágrafo. Resta saber ao que sabe. Esteticamente sabe ao que quisermos que saiba pois já há muito diz o povo: “quem feio ama, bonito lhe parece”. Para este ESCAPE a NT é rica nas suas formas. Deste ângulo é horripilante, daquele outro lindíssima. Chama-se personalidade. À lupa revela detalhes infelizes. Acabamentos a melhorar nalguns plásticos e encaixes, um guiador paupérrimo e mal acabado, aquele satélite de comandos com 16 (dezasseis) botões não lembra ao mafarrico. Malas que exigiam melhor qualidade nos materiais. Notem que não estou sequer a ser exaustivo ou cáustico. 

READY TO GO?!? 
A moto não agrada ao primeiro olhar. Nem ao primeiro toque. Todavia tudo é fácil a partir do momento em que subimos para esta Honda. O guiador para além de desagradável à vista parece colocado demasiado baixo, todavia a posição de condução apresenta-se correta e confortável, com ajuda na unidade provada do banco “confort”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Em condução urbana a moto cumpre no aspecto da facilidade de utilização e os primeiros sorrisos surgem. A sensação de leveza do conjunto sobressai e a moto flui no trânsito de Lisboa de forma surpreendente tendo em conta peso e dimensões. No entanto é na estrada (e de moto bem carregada!!) que começamos a compreender na totalidade esta nova NT. O comportamento surpreende quando exigimos de um motor que revela alma e elasticidade. A ciclística cumpre como tínhamos previsto, a jante 17 confere competência e divertimento a um conjunto que não nasceu de uma folha em branco. 

Foto: Gonçalo Fabião


Não há deslumbre. Todavia há uma sensação de competência, dever cumprido, e acima de tudo de uma facilidade de utilização que chega a ser desconcertante. Tudo é fácil, intuitivo e seguro e temos de concordar que estamos perante uma moto para todos, para as massas, sejam elas muito ou nada experientes na utilização de uma turística. 

PROVAVELMENTE A BEST VALUE MOTORCYCLE 2022
E depois há aqui um aspecto absolutamente determinante que está de forma decisiva a marcar o sucesso instantâneo da NT 1100: bolsa. Por esta moto contemporânea, com motor e ciclística de comprovada excelência e electrónica de referência, a Honda pede 15.100€ podendo por mais 1.267€ o motociclista optar por uma versão full-extras onde está incluído top case de 50 litros com bolsa interior, encosto conforto para a top case e saco de depósito com 4,5 L, bancos e poisa-pés conforto para condutor e passageiro e faróis de nevoeiro. 

Foto: Gonçalo Fabião

“Honda”. “Referência”. “Touring”. Tudo numa pequena frase. Escrevemos. Ao mesmo tempo que questionávamos se se manterá o mototurismo hoje, em 2022, uma actividade refrescante que trata de superação, afirmação, aventura, genuinidade e diversão? 

Tal como escrevi anteriormente a nova era do Touring anunciada pela Honda não o é por si própria. E não estou convencido que esta nova NT 1100 - que sorveu pouco menos de cinco litros e meio do pornográfico líquido inflamável por cada cem quilómetros de pragmatismo - seja a tal referência Touring que a marca proclama. 

Foto: Gonçalo Fabião

Daqui resultam duas consequências: primeira, hoje, o conceito de mototurismo alterou o seu centro geodésico e seguramente deixou cair alguns aspectos que apontei como o caráter de superação e a própria genuinidade. Segunda consequência: pelo sim pelo não encomendei uma NT 1100 DCT à Honda Portugal cá para casa…, não vá eu estar profundamente enganado e a marca ter mesmo razão quando afirma “só tem de pensar numa coisa. Para onde, e até onde, quer ir?”.

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Abordei esse tema neste outro post: https://oescapemaisrouco.blogspot.com/2021/10/o-que-e-que-nova-honda-nt1100-tem.html

      Eliminar
  2. Ah ah ah... comentei contigo que ainda dizias adeus à AT por causa da NT... Abraço e votos de muitos Kms com a nova companhia.

    ResponderEliminar

Site Meter