domingo, 13 de fevereiro de 2022

Harley-Davidson Pan America Special à prova

América. Alguns dizem ser inequívoco apontar como origem do nome "América" o prenome do navegador italiano Américo Vespúcio. Supostamente o termo aparece em 1507 na obra Cosmographiae Introductio de autoria de Martin Waldseemüller em Saint-Dié-des-Vosges algures em França, em que, ao lado de cartas escritas por Vespúcio, consta um mapa no qual as terras do nordeste brasileiro - cuja descoberta Waldseemüller erradamente atribuiu a Vespúcio - estão indicadas como sendo "Terras de Américo ou América”. 

Foto: Gonçalo Fabião

Certo é que o continente americano é a maior massa terrestre do planeta no sentido norte-sul. No seu mais longo trecho, estende-se por cerca de 14 000 km, da península de Boothia, no norte do Canadá, ao Cabo Froward, na Patagônia chilena. 

Foto: Gonçalo Fabião

A América, também conhecida pela expressão “Novo Mundo” é hoje cruzada por um conjunto de estradas, vias e autoestradas que pretendem unir o norte, no Alaska, ao sul, na Argentina a que se dá o nome de estrada Pan-americana. Esta ideia de um percurso que unisse a totalidade do continente americano em latitude começou por ser delineada em 1929. Todavia um trajecto ininterrupto não prevaleceu. Isto porque no meio dos 48 mil quilómetros de distância entre um ponto e outro (metade para alguns, dependendo do trajecto), há uma interrupção de 87 quilómetros, num território partilhado entre a Colômbia e o Panamá, o denominado inferno do Tampão de Darién, considerada a região mais intransitável e perigosa da América Latina. 

Foto: Gonçalo Fabião

[Explicado e esmiuçado assim talvez alguns entendam que a pan-americana (a maior estrada do mundo que é todavia uma mera abstracção) é sim mítica, pois em bom rigor não existe. Ao contrário da nossa Estrada Nacional 2 que de mítica nada tem, sendo sim épica como bela ferramenta para o “clickbait”. :)] 

MAIS ESTRADAS PARA A HARLEY-DAVIDSON 
Na América é tudo assim: em grande! Como tal vale a pena recuperar a visão da Harley-Davidson comunicada aos investidores em Julho de 2018 denominada More Roads To Harley-Davidson - pode ser consultada aqui (link). Nesse documento faz-se referência a uma moto Adventure Touring que seja capaz, funcional, fiável, com um assento alto que permita uma boa visibilidade do terreno que se pisa e, enfim, numa palavra, versátil. Não há aqui qualquer referência a moto da tipologia trail, big trail, maxi trail ou qualquer coisa trail. Como não há hoje qualquer referência a uma moto da tipologia trail, big trail, maxi trail na comunicação oficial da marca.

Foto: Gonçalo Fabião

Ou seja. É uma invenção, grosseira até, da comunicação social especializada dizer que a Harley-Davidson Pan America Special é uma moto da tipologia trail, big trail, maxi trail ou qualquer coisa trail e corresponde àquela máxima de que uma inverdade dita muitas vezes se torna verdade. É como a cena da Nacional 2 ser uma estrada “mítica” quando existe, entendem? Diz-se…, porque fica bem e recolhe visualizações e likes. Andam todos ao mesmo, no fundo… 

Foto: Gonçalo Fabião

A verdade é que para bom e honesto entendedor rapidamente compreendemos ao que vamos quando vamos com a Harley-Davidson Pan America Special. Estamos perante uma moto há muito pensada pela empresa norte americana, uma mistura fina de conceitos que produziu um híbrido entre uma moto musculada, uma moto de turismo e uma moto capaz de abandonar o asfalto para uma incursão por outros terrenos que ainda assim se possam classificar como estrada. Assim, não se deixem enganar. A Harley-Davidson Pan America Special não é trail, big trail, maxi trail ou qualquer coisa trail. A Harley-Davidson Pan America Special é apenas uma Harley-Davidson Pan America Special. Fácil! 

COLOSSO TECNOLÓGICO 
Construída a partir do novo motor de dois cilindros em V a 60º e dupla árvore de cames à cabeça, batizado de Revolution Max (1250 cc, 150 cv, 125 Nm), que se assume para além de unidade motriz como elemento central e estrutural do quadro, a Pan America monta ao nível de suspensões uma forquilha invertida Showa de 47 mm, totalmente ajustável, com 190 mm de curso na dianteira e um amortecedor Showa, também totalmente ajustável e com curso idêntico. Notem que o conjunto de suspensões é similar nas duas versões da moto residindo a diferença, no caso da versão provada (Special), no facto do acerto ser realizado de forma electrónica a partir de cinco modos pré-definidos

Foto: Gonçalo Fabião

A IMU assume também aqui um papel relevante. Oferecendo ao utilizador Cornering ABS, controlo de tração, sistema de travão motor, assistência de arranque em inclinações, níveis de entrega de potência, definições e acertos realizados a partir dos cinco modos de condução pré-definidos (Rain, Road, Sport, Off Road e Off Road Plus) em conjunto com mais três modos parametrizáveis. 

De sublinhar ainda a presença do muito útil e neófito sistema electrónico ARH que reporta à altura do assento adaptativa. Um dispositivo de suspensão electrónica que faz com que a moto passe automaticamente de uma posição baixa quando parada, para uma posição optimizada quando em andamento, permitindo que, por exemplo, condutores de perna mais curta consigam chegar sem dificuldade com ambos os pés ao chão. 

RUMO AO SONHO AMERICANO 
Os primeiros quilómetros rapidamente revelam uma moto bastante física que não cabe nas gavetas em que a desejam enfiar. A posição de condução sentada é confortável com um guiador alto e largo onde uma nota menos positiva nos incomoda: cablagens a tocar na perna esquerda revelam um detalhe a ser melhorado em futuras versões. A caixa de velocidades mostra a cultura da marca e ainda que precisa é algo dura no seu accionamento, sendo que um sistema de quiqshift será bem-vindo. 

Foto: Gonçalo Fabião

Os grandes espaços são a casa da Harley-Davidson Pan America Special. Ela gosta de “open road” como se diz no Novo Mundo e facilmente a moto envolve os nossos sentidos num ambiente de condução muito próprio que nos faz sonhar com um fim de tarde na Pacific Coast Highway (aka State Route 1, Highway 1, Shoreline Highway ou simplesmente California 1) rumo a um por do sol qualquer entre as eternas longas perfeitas direitas de Malibu. 

IMPONENTE 
Tirada que seja do asfalto a Pan America Special continua a revelar a sua natureza de modelo híbrido. A posição de condução em pé não é tão cómoda como sentado. Rapidamente aceitamos ser necessário espaço para tirar partido da gigante americana. Aqui as “unhas” são fundamentais para tocar tamanha guitarra, sendo a eficácia da condução directamente proporcional à nossa competência no ambiente do fora de estrada. 

Foto: Gonçalo Fabião

Na memória desta prova fica ainda um arranque digno de dragster, à saída das portagens da Ponte Vasco da Gama, no fim desta sessão fotográfica, que me leva a ter mais uma vez a certeza de que esta não é uma coisa-nenhuma-trail mas simplesmente uma Harley-Davidson Pan America Special. 

Foto: Gonçalo Fabião

A imponente e colossal moto da marca de Milwaukee solicitou um consumo (aproximado) de pouco menos de seis litros de ouro líquido inflamável por cem quilómetros de verdadeiro sonho americano, sendo necessária uma transferência bancária de cerca de 23.000€ para levar esta Harley tão especial atravessar os continentes com que sonhamos e que desejamos.

3 comentários:

  1. Quanto ao artigo (escrito), nada a dizer. Delicioso, como de costume. Quanto ao artigo de 2 rodas... continua sem me convencer, particularmente pela estética de "mastodonte".

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    1. :) obrigado pelas simpáticas palavras; até o "mastodonte" agradece, seguramente ;)

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  2. Excelente descrição. No lés a lés de 2021, estive ao lado de uma de matricula Espanhola. Honestamente, não colocando em causa a capacidade tecnológica que está por trás desta criação, acho que é um mastondonte exagerado em termos de envergadura. Estética à parte, é na realidade para pessoas com 2 m de altura ou mais. Não havia necessidade....

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