domingo, 22 de maio de 2022

Suzuki GSX-S 1000 GT à prova

Afinal o que vem a ser a História? Uma ciência que estuda o ser humano e a sua acção no tempo e no espaço em simultâneo com a análise de processos e eventos ocorridos no passado? Ou a História será apenas todo o acervo de informação do passado, arquivada em todas as línguas por todo o mundo por intermédio de registos vários? O que temos a certeza, como várias vezes já escrevi aqui, é a urgência de conhecer o passado para compreender o presente e projectar o futuro. 

Foto: Gonçalo Fabião

Há motos assim! Arrebatadoras. Motos que nos surpreendem, extasiam e nos fazem questionar tudo o que sabemos e tudo o que nos envolve. Motos com o dom de nos fazer questionar tudo aquilo que julgamos saber. A GSX-S 1000 GT da Suzuki é desta cepa. Um absoluto hino ao motociclismo romântico. É pois, mais uma vez, claramente necessário conhecer o passado para compreender como chegamos até aqui, a esta Suzuki GSX-S 1000 GT. 

PRETÉRITO PERFEITO 
Desenhada em 1971, apresentada no ano seguinte e comercializada até 1977, a Suzuki GT 750 assumiu-se como a última moto com motor a dois tempos de grande capacidade a ser oferecida ao mercado. Notem…, quem diria à data da sua concepção e mesmo da sua comercialização que esta moto, a GT 750, viria a padecer do filosófico “dilema do último homem”, ou seja, neste caso, uma peça de motociclismo, uma pedaço de cultura, a encerrar uma era…, quem diria à época? 


A Suzuki GT 750, também conhecida para lá do Atlântico como Le Mans, ostenta ainda de forma orgulhosa um outro título: foi a primeira moto japonesa com motor refrigerado a líquido, tendo sido ainda a bandeira da marca numa gama “a dois tempos” que incluía a GT 380 e GT 550. 

A GT 750 - três cilindros em linha, 738cc de capacidade (72 CV), três carburadores Mikuni VM32Sc de guilhotina e quatro escapes como era clássico na época - rapidamente se tornou numa referência, em especial devido à sua suavidade, silêncio e sobretudo conforto. Uma moto que segundo as crónicas da época contrastava com a agressividade e aspereza das suas congéneres nipónicas. 

REGRESSO AO FUTURO 
Caro leitor, Desaperte os cintos. A viagem ao passado terminou aqui. Estamos no presente, todavia, em bom rigor e para bom entendedor de regresso ao futuro. Foi um salto de meio século. Rigorosamente cinquenta anos. Setembro de 2021. A Suzuki apresenta a GSX-S 1000 GT com data de comercialização ainda para esse ano (passado). As conhecidas dificuldades várias catapultaram-nos para 2022. É aqui e agora que abraçamos a nova GT. E a questão é: tal como GT 750 de 1972, estaremos hoje à beira do fim de uma era? 

Foto: Gonçalo Fabião

Esta Suzuki GSX-S 1000 GT nasce ao redor do K5, o notável (indestrutível?) motor da GSX-R 1000 2005, aqui trabalhado, torneado, depurado, para se oferecer à mais recente norma EURO 5 – quatro cilindros, 999cc, 152cv, 106Nm. A este pedaço icónico de hardware adiciona o melhor do software, composto pelo SIRS (Sistema de Condução Inteligente Suzuki) que por sua vez se subdivide em acelerador ride-by-wire, SDSM (Seletor de modos de condução Suzuki) com 3 mapas de condução, STCS (Sistema de controlo de tração Suzuki) com 5 níveis diferentes de configuração e possibilidade “off”, Quick-Shift bi-direccional, Cruise Control e ainda sistemas de arranque fácil e assistência em baixa rotação. 

Foto: Gonçalo Fabião

Para deixar bem claro que esta moto é um absoluto “statement”, a Suzuki decidiu vestir de gala GSX-S 1000 GT com um traje arrojado que bebe inspiração na vida das profundezas marinhas e também na ficção científica mais ou menos pop chunga. Eu gosto. Adoro, mesmo! 

DESEMPENHO E GENEROSIDADE 
Depois de a abraçar com carinho, aderimos rapidamente à excelente posição de condução da GSX-S 1000 GT, com um guiador e poisa pés correctíssimos no seu posicionamento que nos convidam a momentos de turismo de acção e consequência, sem qualquer esforço físico impróprio. Já instalados, duas notas menos positivas: uma para os comandos que mereciam melhor aspecto e maior qualidade e outra para a protecção aerodinâmica que não sendo ajustável nos pareceu apenas suficiente – aqui a marca oferece um “vidro touring”, 70mm mais alto, que pode ser uma boa aposta para os viajantes. 

Foto: Gonçalo Fabião

Todavia o melhor estava para vir. O fortíssimo desta Suzuki GSX-S 1000 GT é o seu desempenho. Enquanto rodamos e nos conhecemos, exploramos o Sistema de Condução Inteligente Suzuki. 

Foto: Gonçalo Fabião

Primeiro o modo de condução C, o fofinho, que nos pareceu próprio para condições de chuva e mau piso, depois o modo B, provavelmente o mais adequado para condução diária e, enfim, já em modo curva contracurva, saboreamos o modo de condução A que nos deixa a sonhar com uma pista de velocidade onde pudéssemos explorar toda a generosidade deste motor potenciado por uma transmissão onde brilha um shifter que roça a perfeição e uma ciclística  - dupla trave em alumínio no quadro, duplo braço também alumínio no braço oscilante, suspensões Kayaba e travagem Brembo - inquestionável na sua sobranceira eficácia. 

Foto: Gonçalo Fabião

Num momento em que se fala tanto em versatilidade, na verdade a Suzuki GSX-S 1000 GT veio a revelar um equeletismo surpreendente. É dócil na cidade e se descontarmos os espelhos retrovisores tipo “insecto do inferno” podemos fluir na cidade como se de um “tapete voador” nos servíssemos. Fora da urbe o prazer multiplica-se sendo tanto maior quanto desafiante for o traçado do asfalto.

Foto: Gonçalo Fabião

Ficamos a sonhar com um qualquer autódromo do Estoril ou de Portimão. Ou quem sabe Nürburgring, mesmo. Temos moto para isso, moto para atravessar um continente e chegar lá inteiro. Deixar as malas no hotel, provar o sabor de velocidades proibidas em estrada e voltar para casa com uma história para contar. 

FUTURO DO PRESENTE 
É esta a fama e a glória da derradeira GT da Suzuki. Quem sabe se aqui derradeira não significa isso mesmo: tal como na GT “a dois tempos” dos anos setenta, estaremos perante o fim de uma era? 

Foto: Gonçalo Fabião

É bem provável. Como é sabido a marca nipónica, tristemente, acaba de anunciar o abandono do seu mais importante laboratório, o MotoGP. Por outro lado o mundo mudou também do lado da procura…, a crise energética que vivemos e das cadeias de distribuição começa a mostrar o seu lado mais real e é dramático. Olhem…, honestamente…, pelo sim pelo não, julgo que vou ficar atento e não sendo para já nem precisando sequer que seja uma moto nova, gostava muito de ter uma destas na minha garagem. Só porque é extraordinária e porque amei esta moto! 

Foto: Gonçalo Fabião

Os quatro cilindros desta Suzuki GSX-S 1000 GT Metallic Reflective Blue aqui provada reclamaram (apenas) cinco litros e meio de ouro liquido por cem quilómetros de motociclismo romântico, daquele apaixonado, icónico, verdadeiro. Solicitando a marca uns muito bem empregues 15.449€ por esta definição de felicidade em modo motociclo. Notem que o kit de malas laterais nas imagens é um extra que vale pouco mais de 1.000€. Como já alguém terá dito e este ESCAPE acompanha: obrigado Suzuki por esta verdadeira referência do simples prazer de andar de moto!

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