quarta-feira, 2 de novembro de 2022

BMW CE 04 à prova

Qual foi a primeira vez que entraste numa sala de cinema? Consegues lembrar-te? Eu consigo, ainda que muito vagamente. E até sei a data: 29 de Junho de 1978. E sei a data porque esse foi o dia do meu sexto aniversário. Tinha ido almoçar a casa da minha avó Glória, ali não muito longe do Campo de Santana, no topo da colina lisboeta com o mesmo nome (Santana). No fim do almoço o meu pai disse-me que iríamos ao cinema no período da tarde. Não faço ideia por que raio, todavia não achei muita graça à ideia. E depois lá me disse ainda que seria um filme de “guerra nas estrelas que vais gostar”. Fomos ao antigo Condes na baixa de Lisboa, hoje espaço do Hard Rock Cafe Lisboa, à época uma das maiores e melhores salas de cinema de Portugal. 

Foto: Gonçalo Fabião

Na verdade, o filme já tinha estreado “há muito tempo, numa galáxia muito distante”. Foi a 25 de Maio de 1977, com George Lucas refugiado no Hawai por recear ter de lidar com um enorme fracasso (dizem alguns), que o filme chegou a trinta e duas salas americanas, tendo batido o recorde de bilheteira até então detido por “Tubarão” (de Spielberg), e que só veio a ser batido novamente em 1982 pelo filme “E.T”. Todavia em Portugal a estreia só aconteceu a 6 de Dezembro 1977, em Lisboa, no cinema Monumental, onde ficou em exclusivo durante sete semanas. Só depois dessa temporada seguiu para outras zonas do país, chegando ao Porto, por exemplo, apenas no final de Janeiro de 1978. Ora…, vejam bem a lógica da distribuição cinematográfica da época. Se eu vi o filme em sala a 29 de Junho, foi certamente em reposição, algo impossível nos dias que correm.

Foto; Gonçalo Fabião

Vamos dar um salto no tempo para 14 de Outubro de 1983 (aqui já tinha 11 anos) e para Star Wars Episode VI - lançado originalmente como Return of the Jedi - terceiro capítulo da Trilogia Original e o sexto na série em geral. O Império Galáctico, sob a supervisão militar do impiedoso Darth Vader, começou a construção de uma segunda Estrela da Morte, visando aniquilar a Aliança Rebelde. O Império constrói ainda de forma secreta uma base na lua de Endor, que projeta um campo de força para proteger a nova Estrela da Morte, ainda em construção na sua órbita.

Foto: Gonçalo Fabião

E chegamos, enfim, onde eu desejava: Endor. A lua de Endor, ou simplesmente Endor, é um satélite natural no universo ficcional de Star Wars. É um dos nove satélites naturais do gigante gasoso planeta Endor, localizado num sistema de estrelas gêmeas da Orla Externa no setor Moddell. A lua é principalmente coberta por uma floresta temperada que abriga várias espécies inteligentes e animais, sendo a mais proeminente os Ewoks . São notáveis diversas sequências e vamos já, já, recordar uma delas. No entanto Endor é bem real. As cenas foram filmadas no Parque Nacional de Redwood, na floresta de sequoias ao norte de Humboldt County, Califórnia.

   

É precisamente em Endor que assistimos à primeira aparição daquelas que ficariam conhecidas como 74-Z Speeder Bike numa épica perseguição entre tropas imperiais e Luke Skywalker (Mark Hamill) e Leia Organa (Carrie Fisher) - que ficou conhecida como Endor Speeder Bike Chase - onde vemos uma batalha “roda com roda” ao bom estilo de clássicos épicos como Ben-Hur e as suas corridas de quadrigas, sequência pincelada ainda com pedaços de Western revisitado e os seus tiroteios a cavalo. Cinema em todo o seu magnânimo esplendor. 

Andamos isto tudo, vejam só, para daqui retirar o que verdadeiramente nos interessa: a 74-Z speeder bike. Uma espécie de trabalhos preparatórios desenterrados de vários locais da Rede sobre o universo Star Wars, apontam que 74-Z Speeder Bike terá sido construída pela Aratech Repulsor Company, tendo sido anteriormente usada na República antes de ter sido adotada pelo Império.


Na nossa linguagem, a moto tem uma “grande distância entre eixos”, medindo 11 pés (3,3 metros) podendo transportar um ou dois indivíduos e atingindo uma velocidade máxima de 500 Km/h - velocidade esta que não sabemos muito bem como seria suportada por quem nela se faria transportar, tendo em conta que a 74-Z Speeder Bike vai buscar inspiração ao universo Bobber, isto é, é uma moto despida de qualquer tipo de excesso de peso e despida também de protecção aerodinâmica. 

FUTURO HOJE 
Mais algumas notas curiosas: altamente tecnológica, a 74-Z Speeder Bike dispunha de um avançado sistema de regeneração de energia que fazia com que fosse auto carregável. Admirável mundo novo? Como vemos nas imagens, a ficcional 74-Z Speeder Bike, para além de um conceito simples e de uma estética que não deixa ninguém indiferente, é fácil de usar, assume arranques absolutamente dramáticos, uma capacidade de travagem brutal mas extremamente eficaz, um desempenho em curva radical e seguramente conferiria toneladas de prazer a quem a pilotava. 

Foto: Gonçalo Fabião

Fulgural no conceito, arrebatadora no desenho, facilidade na utilização, movida por energias alternativas, um desempenho surpreendente, elevada dose de eficácia e prazer no dia-a-dia, ausência de protecção aerodinâmica. Podíamos estar a resumir a 74-Z Speeder Bike de Strar Wars…, só que não! Já estamos a resumir num pequeno parágrafo ao que sabe a BMW CE 04. A esta só falta voar baixinho para que se assemelhe em quase tudo à (outrora) ficcional 74-Z Speeder Bike. E mesmo assim, acreditem, que em certos momentos de condução, ficámos com a sugestão que a CE 04 voa mesmo baixinho. 

A REVOLUÇÃO SILENCIOSA 
A BMW CE 04 é uma scooter eléctrica. Sem motor de combustão, caixa de filtro de ar, depósito de combustível e escape, a linha incrível e de absoluta ruptura da BMW CE 04 baseia-se no acumulador de energia plano na parte inferior e no grupo motopropulsor compacto. A liberdade e as soluções em termos de configuração resultam assim numa nova estética que se assume como um verdadeiro statement

Foto: Gonçalo Fabião

O centro de gravidade extraordinariamente baixo é desde logo um ponto de partida para uma utilização fácil, uma dinâmica surpreendente e um prazer de condução inequívoco. Tempo e espaço unem-se. Superfícies amplas, tranquilas e minimalistas marcam o conceito geral do design. Assim, enquanto a frente apresenta contrastes emocionantes, a traseira revela elemento típicos da tecnologia de motos mais ou menos clássicas

Foto: Gonçalo Fabião

O motor eléctrico debita uma potência máxima de 42 CV (31 kW) com um binário de 60 Nm disponível desde as zero rpm (231 Kg de peso em ordem de marcha). Com o carregador fornecido de série (2,3 kW - 10A) é possível o carregamento da bateria a 100% em menos de 4 horas e meia. Recorrendo a um carregador rápido de 6,9 kW (30A) – opcional - uma carga completa demora apenas cerca de hora e meia, ou apenas 45 minutos para recuperar dos 20 para os 80%. 

LUXO E PAIXÃO
A qualidade de construção é inquestionável e a CE 04, possui a tecnologia a BMW Motorrad no que diz respeito a conforto e segurança. ABS, ASC e o assistente de chamada inteligente ECALL estão incluídos nos equipamentos de série; o DTC (Dynamic Traction Control) e o ABS Pro estão disponíveis como opção. Variantes do banco estão também disponíveis adicionalmente com almofada de encosto integrada e aquecimento, bem como com auxílio de marcha-atrás eléctrico, tudo para descomplicar a vida na grande cidade – usei diariamente o auxílio de marcha-atrás eléctrico que se revelou muitíssimo útil em manobras de parqueamento. 

Foto: Gonçalo Fabião

A BMW CE 04 vai muito para além de uma scooter utilitária. Em bom rigor temos até fortes dúvidas de que estejamos perante uma scooter tal como as conhecemos. Dentro do urbano e do suburbano a CE 04 é aquilo que quisermos que seja. Pode servir para um calmo passeio noturno pela cidade em modo “ECO”, uma eficaz deslocação entre casa e trabalho em modo “ROAD”, ou ainda uma fuga rápida em modo “DINÂMICO” pelas estadas mais retorcidas da região, tirando partido da soberba ciclística potenciada pela excelência da aderência oferecida pelos Pirelli Diablo Rosso Scooter, um detalhe importantíssimo que todos parecem esquecer nesta moto. 

CHOQUE E ESPANTO 
Honestamente, a BMW CE 04 marcou-me profundamente e fez-me rever a minha opinião quanto à electrificação. Chama-se evolução, meus caros. Nada a fazer. Ou acompanhamos ou morremos.

Foto: Gonçalo Fabião

Falta falar de um aspecto determinante quando falamos em electricidade: autonomia. Em modo “ECO” com potência mínima e regeneração máxima podemos ter electrões para perto de 130 quilómetros de utilização. Em “DYNAMIC” com potência máxima e regeneração máxima teremos energia para cerca de 80 quilómetros. A condução em “ROAD” (potência máxima e regeneração mínima) e “RAIN” (potência mínima e regeneração mínima) oferece valores de autonomia intermédios. 

Foto: Gonçalo Fabião

Não há maneira de dizer isto de outra forma: a BMW CE 04 chocou e espantou enquanto solicitava 9 kWh por cada cem quilómetros de revolução silenciosa – o que traduzido para língua de petrolhead significa cerca de 1 (um) euro por cem quilómetros sem som de combustão e escape. A BMW Motorrad solicita uma transferência bancária de 13.110 € pela versão base da CE 04, sendo que esta unidade muitíssimo bem equipada custa 14.226€, valor este que poderá já ter sido revisto entre o momento da prova e o da publicação deste texto.

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