segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Dakar 2019 as perguntas de sempre

A antevisão ao Dakar 2019 por João Carlos Costa, jornalista e comentador Eurosport, é boa demais para se perder rapidamente numa linha do tempo de uma página de rede social. Com a sua devida autorização aqui a trago. Merece a vossa atenção. O Eurosport 1 irá acompanhar diariamente o Dakar até dia 18, sempre às 22h00. 


Esta é a décima viagem por terras da América do Sul, talvez a última, com a Arábia Saudita, quem sabe a Argélia, no horizonte. Um evento único na história da “aventura extrema de Thierry Sabine”, pois pela primeira vez realiza-se num só país. Com as mudanças políticas no Chile, a crise económica na Argentina e a falta de entendimento com Ivo Morales para a manutenção da Bolívia, a ASO acabou por ficar apenas (e tardiamente) com o apoio do Peru. Não teve outra solução se não “depenar o bicho” da melhor maneira, juntando-lhe um “recheio” bem saboroso. Pelo menos assim parece antes de ser “esquartejado”... 

Feitas as contas, o Dakar 2019 tem a menor quilometragem total (aproximadamente 5600 km) e de troços cronometrados (quase 3000 km) de sempre. No fundo, pode ser o início de uma nova Era, com a maior competição TT do Mundo a diminuir número de dias e a quilometragem, para satisfazer novos "públicos".

O desafio ao longo das 10 etapas será enorme. Muita areia, muitas zonas de montanhas dunares. Será preciso uma enorme forma física, conhecer bem as técnicas de ultrapassar dunas (pressão de pneus e zona de “ataque” ideais) e ser muito forte em navegação. Todos os dias terão grandes dificuldades para resolver e não haverá as habituais etapas de transição. 

E as perguntas de sempre são: será desta que a KTM perde? E se acontecer, será para a Honda, para a Yamaha, quem sabe até para a Husqvarna? Ou mais uma vez, tal como acontece consecutivamente desde 2000, serão as “austríacas” a ficar com os louros de um 18º triunfo? E será desta que ganha um português, depois de vários pódios de Hélder Rodrigues, Ruben Faria e Paulo Gonçalves?

Não é fácil dar respostas. Com base nos resultados do Mundial Todo-Terreno, existe uma real igualdade entre as quatro marcas. Nos últimos anos, tem acontecido o mesmo e o Dakar acaba por ser sempre uma festa laranja. 

Quanto aos portugueses, com Hélder e Ruben remetidos a papéis de conselheiros na Honda (onde Bianchi Prata se ocupa da logística), cabe a Paulo Gonçalves tentar o triunfo luso, ainda que, há menos de um mês, tenha passado pela mesa de operações para remoção do baço. Mais que a falta de forma física, pois tem treinado, é estar mais exposto a contrariedades infecciosas. 

Seguro é que vamos ter enormes batalhas face ao cronómetro e, ainda mais, tácticas. As posições à partida de cada etapa (e a forma como os pilotos da mesma marca podem ajudar o chefe-de-fila), bem como as maiores ou menores dificuldades na navegação que dai resultem, serão de gestão absolutamente fundamental. Atrevo-me a dizer que, face a este plantel, e ao percurso de menos de 3000 km, quem perder meia hora pode estar fora da luta. Mais ainda: após dois ou três dias, acredito que as marcas na luta pelo triunfo serão tentadas a definir um verdadeiro “ponta de lança”, a quem será incumbido marcar o “golo da vitória”. Só que é o Dakar. Nesta maratona TT, o que é verdade hoje, pode não o ser amanhã. Nos últimos anos, as quedas têm sido quase sempre o factor decisivo na definição do primeiro lugar do pódio, muito mais que a resistência mecânica ou a performance das motos... 

KTM. Em equipa que ganha não se mexe e a KTM fez isso mesmo. Conta com os vencedores das três últimas edições (2016, o australiano Toby Price; 2017, o britânico Sam Sunderland; 2018, o austríaco Matthias Walkner. O argentino Luciano Benavides e o “nosso” Mário Patrão surgem como “aguadeiros” de luxo, enquanto a espanhola Laia Sanz tenta levar o estandarte da feminilidade ao top 10. A 450 Rally voltou a evoluir e está pronta para todos os desafios nas dunas peruanas. Pessoalmente, acho que os vencerá... 

A Honda acredita que é desta. A CRF 450 Rally foi sendo melhorada e ganhou provas do Mundial, neste tipo de terreno sul-americano. Com Paulo Gonçalves ainda a recuperar, pese embora dono de uma força anímica sem par, será normal considerar o argentino Kevin Benavides (2º em 2018) como o maior candidato da marca nipónica, junto com o espanhol Joan Barreda, desde que consiga, de uma vez por todas, juntar velocidade ao evitar quedas “destrutivas”. Basta ver que Barreda venceu 22 troços em oito Dakar, mas tem como melhor resultado um 5º posto em 2017. O americano Ricky Brabec e o chileno Ignácio Cornejo, que substituindo Paulo Gonçalves à última da hora em 2018 terminou em 10º, completam a forção oficial da Honda. 

A Yamaha parte confiante. Os resultados da primeira semana, no Peru, na edição anterior, deixam boas perspectivas para os pilotos das WR450F. Adrian Van Beveren quer repetir o assalto à liderança onde chegou em 2018 antes da queda na 10ª etapa. Xavier de Soultrait também mostrou ser capaz de andar na frente. Os dois franceses têm a companhia do australiano Rodney Faggoter e de Franco Caimi. O argentino esteve em dúvida até ao último momento, mas recuperou a tempo da fractura no fémur sofrida em Marrocos. 

No campo da Husqvarna, também houve incerteza quanto à presença de Andrew Short. O americano, ex-rei do Supercross, acabou por não faltar à chamada e vai secundar o duplo campeão do mundo TT, Pablo Quintanilla aos comandos das FR 450 Rally. O chileno andou na luta pela vitória em 2018 e é um verdadeiro candidato. O mexicano Carlos Gracinda e o italiano Jacopo Cerruti são os “ajudantes de serviço”. 

Os indianos da Hero voltam ao Dakar com as Speedbrain 450 Rally e aí vamos encontrar o terceiro português inscrito por uma equipa oficial. Joaquim Rodrigues Jr quer esquecer a queda da 1ª etapa no ano passado. Está, sim, desejoso de lutar pelos melhores lugares. A moto parece capaz, como comprova a posição que ocupou no final da prova de 2017 (antes da penalização que o fez descer para 12º) e também o sétimo posto de Oriol Mena na edição anterior (então o melhor rookie). O espanhol volta a ser parceiro do português na Hero, tal como o indiano CS Santosh. A fechar as equipas oficiais nas duas rodas, temos os franceses da Sherco TVS 450 RTR, com Adrien Metge a receber o reforço do irmão mais velho (e ex-piloto Honda), Michael Metge. 

Dos outros, há sempre que contar com o eslovaco Stefan Svitko (KTM), 2º em 2016, o compatriota Ivan Jakes (KTM), e o espanhol Juan Pedrero (KTM), sem esquecer o argentino Diego Duplessis (Honda) e o boliviano Daniel Nosiglia (Honda). No campo nacional, muita atenção às estreias de pilotos como o campeão nacional António Maio, ou Sebastain Buhler. Um Top 25 seria óptimo, posições que David Megre e Fausto Mota também sonham, ainda que para todos o mais importante seja regressar a Lima, no final da prova. Mais ainda, esse será o objectivo de Miguel Caetano e Hugo Lopes.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Site Meter