quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A estrada, a moto e o telefone esperto – Estrada Nacional 9

Quanto mais me embrenho nesta verdadeira saga que consiste em identificar e calcorrear as “outras estradas” - como agora vergonhosamente lhes chamam -, mais me apaixono por este trabalho e maior é o respeito que cultivo por todos aqueles que no passado desenharam e concretizaram o Plano Rodoviário Nacional de 1945 (link). Em tal plano a Estrada Nacional 9 (N9) assumia-se, e assume-se ainda hoje, como uma verdadeira e importante circular regional exterior de Lisboa. 

portugal estrada nacional 9 bmw f750gs bmwf750gsA N9 parte de um dos limites da nossa bem conhecida Vila de Cascais. E parte daquela que deve ser a mais “betinha” e “enervadinha” rotunda da Região de Lisboa – a rotunda de Birre, também denominada de “rotunda do Burger King”. Num espaço exíguo, todos os dias milhares de apressados condutores tentam desembraçar-se o mais rapidamente daquele que nem sonham ser o início de uma estrada maravilhosa. 

Assim que nasce, a nove, rapidamente se descaracteriza em auto-estrada, sendo necessário procurar o traçado original para saudar a verdadeira Catedral que é ainda hoje o belíssimo autódromo do Estoril. O caos que era este troço de estrada até Sintra foi solucionado pela A16 – é para isso que servem as vias rápidas – e já que aqui estamos é impossível não fazer o curtíssimo desvio até à eterna Sintra. 

Durante muito tempo um santuário real, o seu terreno arborizado está edificado de quintas e palácios em tons de pastel. Para além da doçaria tradicional – queijadas e travesseiros - a Vila de Sintra é notável pela presença da sua arquitectura romântica, resultando na sua classificação enquanto Paisagem Cultural de Sintra, Património Mundial da UNESCO e tem recusado ser elevada a categoria de cidade. 

De barriga composta, seguimos para Norte. E só nos livramos da horripilante paisagem suburbana totalmente descaracterizada após Montelavar, no suave vale do pequeníssimo Rio Lizandro que cruzamos na “amorosa” povoação de Cheleiros. 

De Cheleiros a Mafra vão poucos quilómetros. Aqui voltamos a marcar encontro com a abundante história e gastronomia portuguesa e, com tantos sinais (caso ainda não o tivéssemos feito), começamos a entender a riqueza e importância desta Nacional 9. 

Da Vila de Mafra a estrada segue ao sabor do terreno, com a maresia vinda do mar da Ericeira como moldura, até rumar a Oeste para Torres Vedras. Querendo alguma animação extra é sempre possível fazer um pouco de batota, abandonar a 9 para disfrutar das curvas da 9-2 que nos levam ao Codeçal e ao Gradil, tudo nomes conhecidos do mítico Rali de Portugal Vinho do Porto que nunca mais será o que foi.

De uma ou outra forma acabamos por cruzar Torres Vedras, que se transformou com chegada da A8 - como ficou dito aqui (link) - em mais um entediante dormitório de quem trabalha em Lisboa. 

Ao deixarmos para trás a “capital do Oeste”, a N9 recupera o seu charme muito próprio quando rompe as vinhas nas suaves colinas da Carvoeira. Estas e a bucólica Aldeia Galega da Merceana - rodeada de quintas e terrenos de cultivo que circundam o núcleo habitacional consolidado por uma arquitectura também ela medieval – abrem caminho para o grande final da Estrada Nacional 9, um troço de cerca de quinze quilómetros de curvas e contracurvas desenhada ao sabor do relevo e que nos embalam até Alenquer.

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Quem, o quê, onde, como, quando e porquê – não necessariamente por esta ordem… 


A Estrada Nacional 9 não é mas podia muto bem ser conhecida por antiga CREL – Circular Regional Exterior de Lisboa. Está localizada no distrito de Lisboa e liga Cascais a Alenquer. Tem o seu inico não muito longe do ponto onde termina a Nacional 6 (link), Marginal, e o seu terminus em Alenquer quando encontra a Nacional 1 (link). Entre Alcabideche e o Autódromo do Estoril e entre Penaferrim e Lourel a Nacional 9 partilha o traçado com a A16. Foi por este ESCAPE percorrida no final mês de Dezembro de 2018 aos comandos de uma BMW F 750 GS que gastou quatro litros e meio daquele líquido inflamável de que tanto gostamos. A N9 é credora do nosso respeito. É um percurso pitoresco que dá um longo e suave abraço à Grande Lisboa, desde o oceano atlântico até às belas encostas vínicas do Oeste. Num qualquer pais anglo-saxónico este fascinante percurso rico e pleno de vida, seria um belo roteiro turístico com enfase na longínqua história que cruza. Também por aqui o turismo não mora e assim se perde valor, muito valor.

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