“De vez em quando temos a sorte de nos cruzar com um bom selvagem. Daqueles que nos fazem parar tudo e recordar que há uma vida para ser vivida.”. Foi desta forma que vos falei aqui (link) do André e da sua pequena loucura saudável de querer correr a América do Sul numa simples Honda 125cc.
O André não pára. E não pára de nos surpreender. O que vão encontrar infra não foi escrito por mim mas sim pelo André nas suas redes sociais – palavras por mim subtraídas (porque penso que merecem ser lidas) às quais apenas “dei um jeitinho” para soltar algum do pó da estrada...
Depois de três dias no meio do nada, sem rede e com mais de trezentos quilómetros de puro todo-o-terreno nos Andes, consegui chegar a Uyuni! Saí de San Pedro de Atacama em direcção à Bolívia, quando chego à fronteira percebo que não existe estrada neste país, simplesmente o pior piso que vi na minha vida. Até aqui tudo bem, faço mais uns quilómetros e chego à entrada do Parque Nacional, onde um dos trabalhadores me diz que só podem entrar no parque veículos 4x4 e motos de enduro ou trail. Ouvi que principalmente sozinho não podia, que a moto dificilmente passava na zona para onde eu tinha de ir e, para além disso, em caso de queda não tinha rede nos próximos 300km, a temperatura durante a noite era sempre inferior a 10 graus negativos e poucos veículos circulavam nessas estradas. Depois de ter dito que ia à minha responsabilidade, lá consegui a permissão para entrar.
No primeiro dia tive que me dirigir a uma aduana que ficava a 80km para tratar dos papéis da moto na Bolívia, depois voltei uns quilómetros atrás para poder dormir num refúgio que não tinha água nem luz mas tinha algo muito melhor, umas termas com água a 40°, onde estive no fim de tarde e durante a noite a ver o fantástico céu dos Andes com temperaturas negativas no exterior!
O segundo dia foi o dia mais duro! Saí bem pela manhã e fui visitar os géisers, que estão a 5200m de altitude, novo record, visitei a laguna colorada, e sempre com estradas péssimas, perto de cair mais de vinte vezes, sem qualquer exagero! A minha média era de 20km/h a andar bem, sempre entre 4000 e 5000m de altitude, passado oito horas ao a conduzir em pura areia de deserto, o sol a pôr-se, o peso todo na traseira da moto e o pueblo mais perto a 50km! Resultado 3 quedas, umas valentes cambalhotas, umas pisaduras, GPS e telemóvel partido, tudo em apenas uma hora. Ao longo de todo o dia só vi de manhã os 4x4 que fazem os tour aventura aqui! Por fim, consegui chegar ao pueblo já de noite e encontrar um alojamento! Sempre terra compacta, como auto-estrada.
Impressiona ainda o relato que o André faz da sua experiência de visita às minas de Potosi.
Foram as maiores minas de prata do mundo. Morreram mais de 8 milhões de pessoas nestas minas desde o início da sua exploração. Ainda hoje, só de derrocadas, morrem cerca de 14 pessoas por mês (…). Estes trabalhadores não comem nada durante mais de oito horas de trabalho, só mascam folhas de coca e bebem álcool de cana-de-açúcar puro, a 96% de volume, para aguentarem o calor louco do interior das minas, a falta de oxigénio que existe nos túneis e a altitude de mais de 4000 metros! A esperança média de vida destes trabalhadores é de 40 anos devido aos gases e químicos presentes nestas minas! (…).
Sigam a viagem do André no instagram em @voltaamericademoto
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